Em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) no dia 11 de fevereiro, a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), vinculada à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o apoio da UFSM, organizou, de forma online, a edição especial de seu evento Mulheres na Ciência.
Participaram as pesquisadoras Ana Paula Fernandes, professora do curso de Farmácia na UFMG; Simone Evaristo, bióloga e docente no Instituto Nacional de Câncer (Inca); Sarug Dagir, professora do curso de Psicologia da Universidade Federal de Tocantins (UFT); e Leonice Mourad, professora do Departamento de Metodologia do Ensino do Centro de Educação (CE) da UFSM.
O objetivo da ONU ao criar o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência foi incentivar o acesso e a participação feminina de forma igualitária no âmbito acadêmico. E apesar de as mulheres serem maioria no mundo, apenas 28% dos cientistas são do sexo feminino, conforme dados da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Para Simone, não há incentivo suficiente para introduzir as mulheres na ciência. “A mulher é tolhida para saber o básico, não para uma vida acadêmica”, ressalta.
Leonice acredita que é preciso pensar em estratégias para meninas e em estratégias para meninos que sejam compensatórias. “A educação é sexista. Nós, professores, precisamos trabalhar a alfabetização científica desde a educação infantil, para que as crianças, em específico as meninas, consigam estabelecer conexões entre o mundo imediatista e perceptível e o mundo mais sistematizado, permitindo, assim, um avanço quali e quantitativo”. Em uma perspectiva freireana, Leonice defende que a incorporação de estratégias de ensino que incentivem a curiosidade, a troca, a dúvida e a argumentação na educação científica auxilia as meninas no momento da escolha de suas profissões.
A trajetória das mulheres na ciência destaca também a existência de grupos minoritários, que sofrem uma repressão ainda maior na vida científica. Segundo o IBGE, em 2019, entre as estudantes do ensino superior do Brasil de 18 a 24 anos, as mulheres negras ou pardas apresentaram uma taxa de frequência escolar líquida de 22%, quase 50% menor do que a frequência registrada de mulheres brancas, que é de 40%. Já no caso de pessoas transgêneros, cerca de 60% não concluíram o ensino médio e apenas 0,02% acessaram o ensino superior, como mostram os dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
Estatuto da Igualdade de Gênero da UFSM foi destacado
Segundo Sarug, é necessário que a sociedade avance tanto em políticas públicas quanto em uma educação humanizada, que se importe com o acolhimento das minorias, como no caso de mulheres trans e travestis. Apenas em 2019, a transexualidade e a travestilidade deixaram de ser consideradas patologias pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A professora Ana evidencia: “Institucionalmente, é importante que haja ações afirmativas que promovam e incluam a diversidade entre os estudantes”.
Leonice lembrou da criação, na UFSM, do Estatuto da Igualdade de Gênero. “É uma conquista importante. As universidades precisam investir fortemente em táticas como essa”, disse. Salientou ainda que para que a ciência possa avançar confortavelmente é importante que a sociedade esteja mobilizada conjuntamente com as questões.
A roda de conversa, coordenada pela jornalista da Fundep Dilian Calafaia, teve início com a performance “Fagulhas”, interpretada pela atriz e produtora Alice Mesquita. A performance foi inspirada no poema de mesmo nome de Ana Cristina Cesar, que se alinha com a proposta do evento: descobrir-se e aventurar-se em novas experiências.
O evento, que aconteceu no dia 11 de fevereiro, contou com intérpretes de Libras e está disponível no canal da Fundep no YouTube.
Texto: Karla Giovana Essy, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista