A Universidade Federal de Santa Maria vem aperfeiçoando seu sistema de distribuição de bolsas científicas nos últimos anos, contribuindo de maneira significativa para o avanço da iniciação científica e da iniciação tecnológica. Universidades federais como a UNIPAMPA, também utilizam como base o mesmo sistema de distribuição de bolsas científicas, enquanto outras pretendem seguir este caminho, como a UFAL. As transformações do processo nos últimos quatro anos vêm gerando resultados, com a diversificação das áreas do conhecimento que passaram a ter acesso às cotas de bolsas, bem como projetos de iniciação tecnológica que contribuem para a relação entre a universidade e a economia regional.
Segundo o professor e coordenador do Programa de Iniciação Científica, Paulo Cesar Piquini, as modificações que contribuíram para o avanço da iniciação científica e da iniciação tecnológica foram possíveis devido ao olhar cuidadoso da instituição para com essas bolsas. Mesmo nos anos mais difíceis em termos de orçamento, a UFSM manteve a concessão de verbas nessa área, o que demonstra o compromisso institucional com esta política.
“A participação do Comitê Externo do CNPq na análise de nossos processos de seleção a avaliação ajudou sobremaneira a melhoria de todos nossos processos. O sucesso de nossos procedimentos foi atestado com o recebimento do Prêmio Destaque Institucional em Iniciação Científica e Iniciação Tecnológica do CNPq no ano de 2019, prêmio nacional outorgado anualmente pela maior agência financiadora de pesquisa do país”, relata o professor. Para Piquini, a conexão entre o conhecimento em sala de aula e as práticas profissionais e científicas é um dos principais objetivos da formação dos estudantes da UFSM, proporcionando uma formação de qualidade e atualizada com a fronteira do conhecimento.
Iniciação Científica: modificações buscam equidade na distribuição de cotas de bolsas
Houveram modificações no processo de distribuição de bolsas nos últimos anos, a maior delas no ano de 2017. Anteriormente, as cotas de bolsas de iniciação científica provenientes das agências financiadoras CNPq e FAPERGS eram divididas entre os centros de ensino, avaliava-se as solicitações dos professores de cada centro e atribuía-se uma nota a estas solicitações. Os critérios consideravam o número de professores doutores, o número de programas de pós-graduação e seu conceito médio e o número de professores que detinham bolsa produtividade em pesquisa no CNPq.
As cotas eram distribuídas entre os centros de ensino, elaborava-se uma lista de classificação das solicitações por ordem de pontuação para cada centro de ensino e distribuía-se as cotas seguindo a ordem de classificação estabelecida. A pontuação de cada solicitação era estabelecida basicamente pela produção científica/tecnológica/artística do pesquisador que solicitava a cota de bolsa.
Segundo Piquini, essa divisão acabou trazendo alguns desequilíbrios internos quanto à distribuição das bolsas e, desse modo, a Coordenadoria de Iniciação Científica da PRPGP propôs modificações no modo de se distribuir as cotas de bolsas de iniciação científica provenientes do CNPq e da FAPERGS.
Desde 2017, a Coordenadoria de Iniciação Científica da PRPGP deu início a modificações significativas, que foram discutidas e aprovadas pelo Comitê Institucional de Iniciação Científica. As cotas passaram a ser distribuídas por área do conhecimento da CAPES (num total de 49) e não mais por centro de ensino. Elaboraram-se nove diferentes fichas de avaliação, uma para cada Grande Área do Conhecimento do CNPq/CAPES. Cada Grande Área congrega diversas áreas possíveis. Além disso, foram estabelecidos novos indicadores para distribuição.
O Comitê Externo do CNPq propôs que o número de pesquisadores detentores de bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq na área tivesse peso de 50%. Já o conceito médio dos cursos/programas de pós-graduação stricto sensu, com sede na UFSM, na área ganharam um peso de 20% e o número de pesquisadores solicitantes na área 30%.
Com as alterações, houve uma mudança significativa quanto ao quantitativo de bolsas recebidas pelas diferentes áreas do conhecimento. Algumas áreas que antes não recebiam nenhuma cota de bolsa, passaram a receber o proporcional à sua representatividade dentro do conjunto das áreas da UFSM.
Profº Piquini afirmou que estas modificações têm sido introduzidas e aperfeiçoadas ao longo dos anos, com a participação decisiva do Comitê Institucional de Iniciação Científica da UFSM e do Comitê Externo do CNPq. Atualmente, as modalidades de bolsas estão divididas entre três órgãos de fomento: CNPq, FAPERGS e a própria UFSM.
Iniciação Tecnológica: Soluções para a inovação e desenvolvimento regional
A distribuição das bolsas de iniciação tecnológica e inovação (ITI) também passou por uma reformulação, com fomento do CNPq, FAPERGS e da própria UFSM. “Como o volume de bolsas de ITI é bem menor que as de iniciação científica, não há divisão de bolsas entre Centros de Ensino ou entre áreas do conhecimento. Todos concorrem contra todos, independentemente de área do conhecimento ou centro de ensino. Dessa forma, tínhamos quase que uma repetição das listas de classificados nos três editais, com alguns professores recebendo até 3 cotas (uma em cada edital), enquanto outros nenhuma, mesmo que obtivessem uma boa pontuação”, explica o professor Piquini.
Inicialmente unificou-se o período e o valor das bolsas da UFSM com as do CNPq e FAPERGS, com as bolsas da UFSM passando a ter o valor de R$ 400,00 mensais, com vigência de agosto de um dado ano até julho do ano seguinte. Posteriormente unificou-se os três editais, permitindo a cada pesquisador solicitar até duas cotas de bolsas.
A ficha de avaliação também foi modificada, aproximando-se dos critérios usados pelo CNPq para a concessão de bolsas de produtividade em Desenvolvimento Tecnológico, que são o equivalente na área de tecnologia e inovação das bolsas de produtividade em pesquisa. Nesta nova ficha de avaliação é atribuído maior peso aos itens ligados ao empreendedorismo e à inovação.
Segundo Piquini, “esta reformulação permite que distribuamos as cotas aos pesquisadores melhor qualificados dentro dos critérios próprios relacionados ao desenvolvimento tecnológico e de inovação, enquanto também permite que uma maior amplitude de pesquisadores seja agraciada com cotas de bolsa”.
Por fim, estabeleceu-se uma parceria com a AGITTEC, sendo criadas novas modalidades de bolsas de Iniciação Tecnológica e Inovação com financiamento da UFSM. Estas novas modalidades visam conceder bolsas a projetos que busquem resolver gargalos tecnológicos de empresas incubadas nas incubadoras da UFSM. As empresas apresentam seus desafios tecnológicos aos nossos professores, que então elaboram projetos que buscam soluções aos problemas apresentados. Bolsas de estudo são então concedidas a alunos da UFSM, orientados pelos pesquisadores proponentes dos projetos, com o custeio (material de consumo e outros) sendo bancados pela empresa. A conexão pesquisador-empresa é mediada pela AGITTEC.
JAI Jovem integra estudantes do ensino médio ao contexto da iniciação científica
Além disso, a UFSM tem buscado uma maior aproximação com a comunidade do ensino médio da região através da JAI Jovem. Trata-se de um evento que ocorre em paralelo à Jornada Acadêmica Integrada, onde os estudantes do ensino médio da região apresentam os trabalhos selecionados em cada escola e concorrem a uma bolsa de iniciação científica concedida pela UFSM.
Os estudantes premiados são orientados por pesquisadores da UFSM conjuntamente com os tutores em suas escolas. O pesquisador da UFSM e o tutor da escola de ensino médio elaboram conjuntamente um plano de trabalho que será executado pelo aluno premiado ainda durante o seu período de ensino médio.
Além de permitir aos estudantes esta oportunidade de trabalhar junto aos grupos de pesquisa da UFSM, também aproxima os tutores, que são professores das escolas de ensino médio da região, destes grupos de pesquisa, estreitando os laços entre a UFSM e as escolas de ensino médio.
Este evento e esta modalidade de bolsas têm se mostrado de grande sucesso. Contudo, nestes últimos dois anos este evento não foi realizado, devido a paralisação das atividades das escolas de ensino médio.
Reportagem: Mariana Souza, bolsista da Agência de Notícias da UFSM
Ilustrações: Luiz Ricardo Kaufmann, bolsista da Agência de Notícias da UFSM
Foto: Ana Laura Iwai, bolsista da Agência de Notícias da UFSM
Edição: Davi Pereira