Os últimos meses foram marcados pela pandemia da Covid-19, que trouxe diversos novos desafios para a população. Um deles foi aprender a lidar com o excesso de informações falsas presentes na internet. Um estudo realizado pela Avaaz revelou que cerca de 110 milhões de pessoas acreditaram em pelo menos uma fake news sobre a pandemia no Brasil. O número corresponde a sete em cada dez brasileiros.
A Organização Panamericana de Saúde utiliza o termo infodemia, que significa um grande aumento no volume de informações associadas a um assunto específico, com um grande potencial de multiplicação. Com isso, surgem rumores e desinformação com esses fatos, com a possibilidade da manipulação dessas informações, com intenções negativas, o que acontece com facilidade com o uso das redes sociais.
Com o intuito de conscientizar os servidores das bibliotecas da Universidade, a Biblioteca Central da UFSM convidou, ainda em junho de 2020, a professora Laura Storch, do Departamento de Ciências da Comunicação, do Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), para proferir uma palestra online com o objetivo de despertar um olhar mais cuidadoso às notícias, informações e fontes, e abordar a responsabilidade de disseminar informações não verdadeiras. Foram abordados temas como a desinformação e de que modo é possível percebê-la na história da comunicação de massa, quais as suas características e como podemos reconhecê-la no cotidiano.
Campanhas de conscientização foram baseadas em pesquisas
A palestra com a professora de Comunicação Social foi o passo inicial de um trabalho de pesquisa e conscientização que estava iniciando. Através das redes sociais da Biblioteca Central, ocorreu o compartilhamento de campanhas de conscientização quanto à checagem de informações (canais, sites, serviços de checagem de fake news), de informação útil sobre o correto uso de equipamentos de proteção, da importância do cuidado na utilização de transporte público, nos ambientes, na higienização pessoal. Tudo baseado em muita pesquisa.
O servidor do Setor de Referência da Biblioteca Central José Pedro Etchepare Cassol realizou pesquisas envolvendo as diferentes vacinas (à época ainda em fase de testes), diferenças entre os tipos de máscaras, testes rápidos, cuidado com a automedicação, ansiedade, estresse e depressão em tempos de isolamento social.
Ele relata que, pelo fato de a Covid-19 ser uma doença muito recente, foi difícil a procura de fontes confiáveis, o que é essencial para uma pesquisa que vai servir de informação para um grande número de pessoas e ainda conta com o nome da Biblioteca Central. Ele estudou materiais disponibilizados pela Anvisa, Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais da Saúde, entre outras fontes. Todo esse trabalho foi para evitar o compartilhamento de alguma informação equivocada.
O servidor analisa que, como consta na Constituição, o ensino, a pesquisa e a extensão são indissociáveis. Dessa forma, as universidades têm o papel de produzir e compartilhar o conhecimento com a comunidade. “Foi muito gratificante, pois demonstra que o trabalho realizado foi além do objetivo esperado, que era fornecer a informação correta a respeito de uma doença nova, de uma forma mais fácil para compreensão por diversos grupos de leitores”, comenta José.
“A Biblioteca Central decidiu ser protagonista”
Segundo Fernando Leipnitz, atual gerente da Biblioteca Central, o trabalho foi desenvolvido em etapas simultâneas e complementares. Tudo isso para que a comunidade pudesse ter contato com a Biblioteca, mesmo que à distância. “Todos trabalharam de maneira conjunta para produzir material confiável e útil para as pessoas. A campanha provocou interação e diversos compartilhamentos das informações nas redes sociais, mostrando preocupação com a saúde da população, em alertar que o momento que estávamos passando era uma questão de saúde pública, mostrou nossa preocupação e integração social”, explica.
Fernando destaca que a intenção é que a Biblioteca Central seja um canal de interação e de indicação de fontes confiáveis. “A Biblioteca Central decidiu ser protagonista e trabalhar para ser autoridade na veiculação de informações de fontes fidedignas, um dos princípios da construção do conhecimento de qualidade. Por isso acreditamos que a campanha foi pensada em prol da sociedade, e esperamos ter contribuído na prevenção ao contágio, com informação útil para diminuir o sofrimento de famílias”, comenta.
Trabalho realizado pela BC é destacado em artigos
Em função deste trabalho desenvolvido pelas equipes de servidores da Biblioteca Central, recentemente dois artigos científicos foram publicados, citando a biblioteca da UFSM. O primeiro artigo, “As bibliotecas universitárias no combate à infodemia”, de autoria do bibliotecário Alex Serrano de Almeida (UFPel), apresenta uma prospecção de como as bibliotecas universitárias podem auxiliar no combate desta “pandemia informacional”, especialmente ao se identificar barreiras que impedem ou limitam as ações promovidas pelas bibliotecas universitárias brasileiras. O artigo buscou ressaltar que as redes sociais podem servir para a divulgação de informações fidedignas, buscando aproximar as pessoas da biblioteca, como uma autoridade na disseminação de informação confiável, e despertar nas pessoas criticidade nas certezas que as bolhas informacionais veiculam.
O segundo artigo, “Bibliotecas universitárias: uso de estratégias comunicacionais de combate à desinformação no contexto da pandemia Covid-19“, de autoria da bibliotecária Shana Catiusca Dornelles Vidarte Velasco, e da assistente em administração Vanessa Cristiane Dornelles Vidarte, ambas da UFSM, realizou um mapeamento nos sites e mídias sociais de algumas bibliotecas universitárias, no período de paralisação das atividades presenciais, a fim de verificar quais estratégias comunicacionais foram utilizadas para reduzir a desinformação.
Dentre as bibliotecas universitárias estudadas, a Biblioteca Central da UFSM destacou suas redes sociais com a estratégia de publicar conteúdos informativos sobre temáticas relacionadas à pandemia e de divulgação de fontes de pesquisa confiáveis. Verificou-se que essas estratégias comunicacionais promovem a visibilidade midiática dos conteúdos e serviços da Biblioteca Central e auxiliam os usuários a avaliar criticamente as informações recebidas.
As autoras do artigo levaram cerca de três meses para terminar a pesquisa, e contam que encontraram dificuldades ao realizar a pesquisa nas redes sociais das bibliotecas universitárias, pois são poucas bibliotecas que utilizam as redes sociais para combater a desinformação. Elas explicam que essa pesquisa pode dar mais visibilidade à biblioteca como uma unidade com poder informacional, bem como incentivar os alunos a utilizar os conteúdos e serviços da biblioteca. “Os docentes e pesquisadores podem fortalecer a parceria com as bibliotecas e contribuir para o desenvolvimento de projetos e capacitações no uso de recursos e fontes de informação, além de colaborar na divulgação desses e, desse modo, minimizar a desinformação”, comentam.
“Precisamos reconhecer e desconfiar de informações”
Quando o assunto é reconhecer uma fake news, a professora Laura Storch relata que não existe uma regra definitiva. Para evitá-la, é necessário prestar atenção em alguns aspectos do conteúdo, e as fontes indicadas são importantes. Com o avanço da tecnologia, atualmente é possível fazer edições de vídeos, inserindo informações falsas em um vídeo que realmente existe. São os chamados deep fakes, e pode ser muito difícil diferenciá-lo de um conteúdo verdadeiro.
Para ajudar na tarefa de analisar as notícias recebidas, ela indica as formas mais comuns da lista de fake news. Uma delas é chamada de “falsa conexão”, quando você lê uma informação no título da matéria mas, ao acessar o conteúdo, percebe que as conclusões da matéria são diferentes daquilo que o título mostrava. Também existe o “falso contexto”, que acontece quando quem distribui a informação está tentando confundir o leitor, e cria um contexto estranho para aquela situação que não é verdadeira. Por exemplo, dizer que uma determinada situação aconteceu agora, quando na verdade aconteceu no passado. Outra forma bastante popular é o “conteúdo impostor”. Nesse exemplo, quem criou a fake news diz coisas que simplesmente não são verdadeiras sobre pessoas, marcas ou acontecimentos reais.
O processo para combater as fake news é lento e pode demorar um pouco até que a população compreenda como elas são produzidas, observa Laura. Ao longo dos últimos anos estamos acostumados a ouvir sobre fake news, robôs que publicam mensagens de forma massiva, entre tantos exemplos. É algo muito particular desse momento que estamos vivendo, e precisamos aprender cada vez mais. “Nosso principal desafio é a educação para a mídia. Precisamos falar sobre o tema e ensinar as pessoas a reconhecer e desconfiar de informações que recebemos. Isso sempre foi importante, e agora é ainda mais”, acrescenta.
Campanhas como a realizada pela BC da UFSM são extremamente importantes para despertar esse sentimento de dúvida e criar o hábito de checagem de informações em todos aqueles que usam das redes sociais, sites e qualquer outro tipo de ferramenta online para obter informação.
A Biblioteca Central da UFSM segue com campanhas, que abordam diversos outros assuntos, em suas redes sociais: Instagram e Facebook.
Texto: Vitória Parise, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias da UFSM
Arte: Luis Ricardo Kaufmann, acadêmico de Produção Editorial, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista da Agência de Notícias