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Projeto desenvolvido na UFSM inspira o Prêmio Meninas Olímpicas



Hoje, 22 de abril, é o Dia Internacional das Mulheres em Tecnologias da Informação e Comunicação. A data, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), tem o propósito de alertar para a quantidade de mulheres na área de tecnologia, e é celebrada na 4ª quinta-feira de abril de cada ano. Dentro desse contexto, foi aprovado, na Sessão Extraordinária Virtual da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, na tarde da última terça-feira (20), o Projeto de Resolução 38/2019, que instituiu o Prêmio Meninas Olímpicas. 

A premiação objetiva homenagear as estudantes brasileiras de escolas públicas que tenham representado o Brasil em olimpíadas científicas nacionais e internacionais, reconhecendo o esforço e a dedicação delas, além de criar um espaço de representatividade para inspirar outras meninas. 

O reconhecimento às estudantes gaúchas se dará em três categorias, desde o sétimo ano do Ensino Fundamental até o Ensino Médio. A solenidade acontecerá anualmente, em uma data próxima ao Dia Internacional da Mulher.

Este é o único prêmio no Brasil que foi protocolado em várias Assembleias Legislativas (AL), tendo em vista que cada uma terá suas próprias premiações. Atualmente, foi aprovado no Rio Grande do Sul e está em andamento nas Comissões das ALs da Bahia, São Paulo, Amazonas, Roraima e Minas Gerais , além da Câmara dos Deputados.

Tudo isso é resultado do trabalho desenvolvido por um projeto na UFSM, o Movimento Meninas Olímpicas, coordenado pela Professora Nara Martini Bigolin.

 

Movimento Meninas Olímpicas

Quando pensamos nas relações de gêneros é sabido que ainda estamos distantes da tão buscada igualdade, principalmente nos espaços de poder e na Ciência. Essa situação é facilmente percebida por meio de diferenças salariais, índices de violência, baixa participação de mulheres em espaços públicos e de poder. Isso não é diferente no âmbito da ciência e das Olimpíadas Científicas, tanto no Brasil quanto no exterior, já que os números de meninas participantes e premiadas nesses espaços ainda é bastante reduzido. 

Foi esse cenário que estimulou, em 2016, a criação do  Movimento Meninas Olímpicas, uma ação que visa ao empoderamento de mulheres, através do incentivo à participação feminina em Olimpíadas Científicas. 

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Natália e Mariana Bigolin Groff (Foto: Arquivo pessoal)

A iniciativa mais ampla foi idealizada por Natália e Mariana Bigolin Groff, medalhistas olímpicas em áreas da ciência e da linguística. Juntas, elas já conquistaram mais de 60 medalhas. Além de premiadas, as duas também são filhas da professora Nara Martini Bigolin, docente do curso de Sistemas de Informação, da UFSM campus Frederico Westphalen. Inspirada nisso, a professora desenvolveu e atualmente coordena, na UFSM, o Projeto Meninas Olímpicas, que objetiva aumentar e apoiar a participação feminina nesses espaços, ampliando suas áreas de interesse, e por consequência, de atuação no mercado de trabalho. 

 

 

Por que é importante?

Atualmente, apenas 10% de meninas são premiadas nas principais olimpíadas científicas do Brasil e menos de 5% nas olimpíadas internacionais. Este é também o percentual de mulheres eleitas, mulheres presidentes de grandes empresas e  pesquisadoras em centros de pesquisa de excelência, demonstrado nos gráficos abaixo, elaborados pelo projeto.

dados-olimpiadas

Além disso, segundo a ONU, de 144 países avaliados quanto à igualdade de salários entre gêneros, o Brasil ocupa a 129ª posição, ou seja, pior que países como Irã, Iêmen e Arábia Saudita, conhecidos pelos direitos restritos das mulheres. 

O aumento da representatividade feminina nas áreas das Ciências e Tecnologias significa impactar o interesse de meninas e sua disposição para seguir essas carreiras, afetando diretamente o mercado de trabalho e o futuro da ciência brasileira. Trazendo essa reflexão para o meio olímpico, é notável a predominância masculina entre participantes e premiados, especialmente nas Ciências Exatas.

Nara explica que este é um problema persistente e profundo: “As  meninas são 50% das premiadas no 6º ano e terminam 5% no Ensino Médio. Nossa maior descoberta está relacionada ao percentual idêntico da sub-representação das  meninas em olimpíadas de conhecimento com as mulheres em espaços de poder, ou seja, as meninas são eliminadas dos espaços de decisão no ensino fundamental II. Se não resolvermos esse problema na educação básica, não sairemos das piores posições do mundo quanto à desigualdade de gênero e violência contra a mulher”, reflete a professora.

O incentivo à participação de meninas em olimpíadas científicas permitirá elevar este percentual e, como consequência, aumentar a participação das mulheres em pontos estratégicos da sociedade, criando um maior equilíbrio entre os gêneros no Brasil. 

 

Resultados

O movimento já apresenta resultados desde o início, que podem ser observados pelos indicadores de participação feminina nas olimpíadas da área de Exatas como Informática, Física e Matemática. 

Conforme o movimento foi se tornando mais forte no Brasil e no mundo, diversas olimpíadas criaram prêmios específicos para homenagear as meninas com os melhores desempenhos, como demonstra a imagem elaborada pelo projeto:

premios

De acordo com informações obtidas pelo projeto, em 2014 o Rio Grande do Sul tinha apenas 4 meninas como medalhistas de ouro na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas  (Obmep). Em 2016, quando foi feita a primeira homenagem, esse número foi para 9. E em 2018, subiu para 15. Ou seja, o número dobrou a cada 2 anos, a partir desta ação afirmativa.

Um exemplo citado pela professora Nara é de que, na primeira vez em que um prêmio de matemática foi destinado apenas para meninas, a ganhadora não havia ido tão bem na olimpíada, então houve certa resistência em entregar o troféu. Já no próximo ano, a menina que conseguiu ouro na Olimpíada Paulista de Matemática, quando questionada como conseguiu este feito, disse: “Eu vi a foto da menina que ganhou ano passado e pensei: se ela consegue, eu também consigo”. “Quando se vê uma foto de medalhistas apenas com meninos, as meninas, muitas vezes, nem tentam, porque não se reconhecem neste espaço. E agora, com essa representatividade, as meninas estão tentando e tendo resultados espetaculares”, afirma Nara.

A professora também incentivou a participação do Brasil na Olimpíada Europeia de Matemática para Meninas – EGMO, em 2017. Outro impacto positivo na representação feminina dentro desses espaços pode ser visto através do 1º Torneio Brasileiro de Computação, que aconteceu no ano de 2020 e teve a coordenação de Nara. A partir dos resultados dessa competição, mais meninas sentiram-se encorajadas a participarem da Olimpíada Brasileira de Informática. A participação, que até o ano de 2020 era em torno de 10% de meninas medalhistas na modalidade programação, passou a ser de 25%. 

Neste ano, as seletivas de Química e de Informática foram encabeçadas por meninas, o que nunca havia ocorrido antes. Além do fato de que, pela primeira vez, o Brasil será representado na Olimpíada Europeia de Informática para Meninas – EGOI 2021, que será sediada na Suíça. “O Movimento Meninas Olímpicas vem mudando a vida de muitas meninas ao redor do Brasil e do mundo.” completa a coordenadora do projeto.

 

Presença mundial e premiações

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Nara Bigolin e seus filhos (Foto: Arquivo pessoal)

Em 2018, o Movimento e suas criadoras foram homenageados na Olimpíada Internacional de Matemática (IMO 2018),  na Romênia – a olimpíada mais prestigiada do mundo. O Movimento inspirou, também, a criação do  Troféu Maryam Mirzakhani, em homenagem à única mulher que ganhou a Medalha Fields, o Nobel da Matemática. 

A professora Nara foi eleita, em 2018, Mulher Cidadã do RS, pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, e recebeu a Medalha da Ordem Nacional do Mérito Educativo, pela Presidência da República, devido a sua contribuição para a igualdade de gênero no Brasil.

 

Texto: Paola Jung e Mariana Henriques / Assessoria de Comunicação do Gabinete do Reitor

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