Professores do Centro de Artes e Letras da UFSM tiveram um grande desafio em 2020: adaptar os métodos de ensino do presencial ao remoto.
2020 foi um ano de muitas adaptações e modificações no modo de vida da população mundial. A pandemia de Covid-19 exigiu novas formas de socialização, considerando a necessidade inevitável do isolamento social, como forma de evitar o contágio da doença. Na educação, em todos os níveis no Brasil, houve o cancelamento das atividades presenciais e a necessidade do debate e avaliação de novas formas de ensino.
No ensino superior, as universidades adotaram o ensino remoto como forma de amenizar os possíveis prejuízos da não realização das atividades de forma presencial. Na UFSM isso foi possível, através do Regime de Exercícios Domiciares Especiais, o UFSM em REDE, que possibilitou aulas de modo assíncronas e síncronas. A utilização deste sistema foi o principal desafio nas aulas dos cursos de Artes da UFSM em 2020. Apesar do formato comprometer as aulas práticas, muitos desafios foram contornados ao longo do semestre letivo, com expectativa do aprimoramento da modalidade para o ensino das artes na universidade.
Os desafios
É como conta a Professora do Departamento de Música Vera P. Vianna, que ministra aulas de piano do Curso de Bacharelado de Música, uma disciplina com aulas tradicionalmente individuais. Contudo a forma coletiva e presencial permite uma observação maior dos gestos e do desenvolvimento auditivo. “Neste ano tivemos que adaptar e aprender como fazer tudo isso à distância. As explicações ficaram mais detalhadas, tudo passou a ser muito verbalizado. A maior dificuldade foi e continua sendo a qualidade de áudio, as plataformas não têm a qualidade de transmissão desejada e, por isso, passamos a usar muito mais as gravações. Cada aluno grava um trecho de seu repertório, envia, eu analiso e retorno comentários, exemplos.”, conta a professora.
De forma e caráter emergencial, muitos/as docentes aderiram ao formato remoto logo nas primeiras semanas da sua oferta, tornando o processo de reflexão e estudo sobre as possibilidades e a prática, simultâneos. Para o professor Lutiere Dalla Valle, o momento foi de sair da zona de conforto e revisitar a prática de docência. “A partir destas experiências, penso que há uma potente ferramenta virtual que antes não havia utilizado. Há muita possibilidade, quando podemos contar com acesso à internet, mas é uma pena que há estudantes que não dispunham deste recurso”, avalia o professor.
O tempo foi um dos grandes desafios para o ensino remoto, isto porque a modalidade foi implementada com o semestre em andamento, com o treinamento e a formação dos docentes realizada no decorrer do processo. Outro desafio, sem dúvida, foi o acesso dos estudantes, considerando as diferenças sociais e processos subjetivos no que diz respeito a saúde mental, por exemplo.
Para a professora do curso de dança, Neila Cristina Baldi, outro desafio foi às questões pedagógicas: “como condensar conteúdos para não sobrecarregar os estudantes? Como adaptar aquilo que seria presencial para o online? E, mais que tudo: como manter o engajamento e as trocas?. Por isso, também, a necessidade de realizar encontros síncronos, de olhar olho no olho por entretelas.”, comenta ela.
Já as alternativas para as artes cênicas foram migrar os espetáculos presenciais para lives ou ainda para adaptações do espetáculo gravado para ser transmitido depois. De acordo com a professora Raquel Guerra, do curso de Teatro, “isso também acaba gerando um desafio estético, porque a atuação para o Audiovisual e para o Teatro tem suas diferenças. Então foi preciso repensar a atuação para transpor os trabalhos para o Audiovisual. Em Santa Maria, percebi que muitos artistas e grupos conseguiram fazer isso muito bem, mantendo uma produção de qualidade e bom retorno do público”.
2021: esperança, aprimoramentos e luta pelo acesso à educação
A experiência de 2020 traz uma tranquilidade, apesar de não completa, sobre os caminhos possíveis nesse novo ano, tanto no que diz respeito ao controle de contágio da Covid-19 mediante a vacinação, como também nos cuidados individuais – como o uso de máscara, álcool gel e higienização frequente das mão -. Estas perspectivas dão esperança tanto para um possível retorno presencial, por completo ou híbrido, quanto no que diz respeito às possibilidades de ensino remoto através das práticas testadas ao longo do ano de 2020.
Teremos novas normalidades, a partir das experiências do ensino remoto e isolamento social. Isso trará tendências não apenas na educação, mas também nos modos de viver a vida e consumir arte: o que antes era distante por ser apenas presencial, acabou se tornando mais democrático e próximo aos que têm acesso a internet, sendo possível assistir shows, peças de teatro, visitar exposições com apenas um clique.
Para os professores entrevistados, é unânime a necessidade de continuar lutando pela valorização da educação pública de acesso a todas/os, assim como a valorização da classe artística e suas artes.
Reportagem: Caline Gambin, estagiária de Jornalismo na Agência de Notícias da UFSM
Edição: Davi Pereira
Imagens: arquivos pessoais de Bibiana Barrichelo e professora Mônica Borba