O dia 20 de novembro marca o Dia da Consciência Negra no Brasil. A data, criada em 2003 no país e celebrada desde então, faz referência ao dia da morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, que lutou pela vida e pelos direitos dos africanos escravizados no país no século XVII. A data é feriado em mais de mil cidades brasileiras. Algumas regiões também aproveitam o dia e o mês para organizar eventos e homenagens com o propósito de valorizar e exaltar a importância da data para o Movimento Negro e a população em geral.
Na UFSM não está sendo diferente. Mesmo enfrentando alguns desafios impostos pela pandemia, o Observatório de Direitos Humanos (ODH) da Pró-Reitoria de Extensão (PRE), em parceria com diversas entidades, coletivos e organizações, se mobilizou em torno da data e programou inúmeras atividades. Além de palestras e rodas de conversa, exposições online também estão acontecendo.
Exposições virtuais buscam dar visibilidade ao trabalho de negros e negras de diferentes regiões
É o caso da exposição virtual “Aprox(si)mações: visualidades afro-brasileiras”, da artista Thaís Oliveira da Rosa, bacharel em Artes Visuais e atualmente mestranda do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFSM. Em exibição desde o dia 16 de novembro pelo site do Centro de Convenções da Universidade, a exposição leva ao público obras que evocam uma aproximação à cultura afro-brasileira por meio da visualidade. “A produção busca contemplar as visualidades e subjetividades afro-brasileiras por meio de uma produção plástica que se utiliza de características de gravura e pintura para expor visualmente por meio do processo artístico manual fotografias do século XIX como referência”, explica a mestranda, que dá sequência, no mestrado, a uma pesquisa iniciada na graduação.
“A aproximação que é evocada na produção parte da minha percepção enquanto mulher negra de que ao longo de minha vida sempre tive muito pouco contato com outras pessoas negras. Em minha pesquisa busco essa conexão, inicialmente como um desejo inconsciente e atualmente como uma preocupação sociocultural”, afirma.
Além do trabalho de Thaís, a exposição “NEGRURA – Exposição coletiva de artistas negras(os)”, organizada pelo projeto de extensão “Arte, Cultura e Pedagogia: Por uma Educação Antirracista na Educação Básica”, terá sua abertura por meio de uma roda de conversa neste sábado (21) também pelo site do Centro de Convenções.
A atividade contará com uma série de exposições, todas criadas por artistas negras e negros – que possuem ou não formação nas artes – de diferentes cidades do Rio Grande do Sul, como Santa Maria, São Leopoldo, São Pedro, São Sepé, São Borja, Santana do Livramento, Porto Alegre, Pelotas e Rosário do Sul, além de um artista de Linhares (ES) e outro haitiano, da cidade de Independência.
De acordo com uma das organizadoras, a bolsista do projeto Leandra da Silva Cunha, o público irá encontrar um acervo de 20 obras de diferentes técnicas, como serigrafia, pintura, desenho, bordado, colagem e fotografia com interferência. “As obras abordam desde questões relacionadas à identidade, espiritualidade, solidão, ancestralidade, miscigenação, dentre outras. Há uma diversidade de expressões ligadas ao mesmo fio, ligadas pela questão racial. Penso que essa diversidade de expressões demonstra o quanto somos diversos também, por mais que tentem encaixar e uniformizar as vivências e expressões de pessoas negras”, comenta Leandra.
Dialogar, dar visibilidade e fazer refletir
Para a pesquisadora Thaís, atividades como essas têm como objetivo propor diálogos e dar visibilidade à população afro-brasileira. Ela salienta a importância de promover esses debates, não só no mês de novembro. “As problemáticas inerentes nas questões raciais estão presentes na sociedade todos os dias do ano”, ressalta.
Do ponto de vista de Leandra, as exposições buscam passar uma mensagem, levar reflexões e críticas, “desassossegar, mas também acalentar”. “Elas são sempre um convite ao outro de questionamento e interpretação. No caso da ‘NEGRURA’, alguns dos nossos objetivos são incentivar as pesquisas em artes visuais de artistas negras e negros e contribuir com a valorização e difusão de obras que problematizam e abordam as questões raciais”, destaca.
Artistas tiveram que adaptar seu trabalho para o formato remoto
O principal desafio do evento neste ano foi repensar as atividades para o meio virtual. Thaís, cuja produção tem como suporte o espelho, precisou conectar as suas obras à câmera do celular e ao computador. “Uma das intenções era dialogar com o meio em que estivesse inserida através do reflexo e fazer acontecer um confronto entre as visualidades do espectador e das obras. Mas as obras ganharam outro desdobramento. Tive o auxílio do meu amigo Igor Velmud, que programou o site onde as obras ficam nesse novo formato”, explica.
“Penso que o maior desafio é chegar até os artistas”, comenta Leandra. Para ela, o período difícil causado pela pandemia acaba excluindo uma parcela de pessoas que poderiam querer participar. “Isso entra em um dos limites do formato, essa questão da acessibilidade, dispor de internet, conseguir registrar sua obra com certa qualidade de imagem, ter um dispositivo para isso e para acessar as redes. Sabemos que pessoas negras enfrentam as condições mais adversas e desiguais, que se acentuaram ainda mais na pandemia”, acrescenta.
Em contrapartida, Leandra destaca a possibilidade de os trabalhos terem uma maior abrangência. “Teremos pessoas que talvez não conseguissem ir se fosse presencial. Outro potencial é o fato de permitir que artistas de fora de Santa Maria e região participem, isso é muito importante e nos deixou muito contentes”, afirma.
Ambas as exposições ficarão disponíveis no site do Centro de Convenções até a primeira quinzena de dezembro. Além dessas duas atividades, o Observatório de Direitos Humanos tem uma programação que vai até o final de novembro. O cronograma completo pode ser encontrado no site da PRE.
Texto: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista