O território camponês constitui-se por uma diversidade de povos e de lutas, e as Casas Familiares Rurais contribuem para a transformação dos sujeitos e do espaço, num movimento de reconhecimento do saber camponês. O projeto de extensão “Escola de Ensino Médio Casa Familiar Rural Três Vendas/Catuípe: Emancipação e territorialização do jovem do campo”, do Centro de Educação (CE) da UFSM, resultou de uma pesquisa de doutorado que objetivou compreender as transformações na produção da vida dos egressos da Escola de Ensino Médio Casa Familiar Rural Três Vendas, situada em Catuípe (RS), e da Casa Escola Agrícola Campo Verde, em Portugal.
A pesquisa foi desenvolvida entre 2016 e 2019, sendo um período com camponeses brasileiros e outro no campo português, e foi orientada pelas professoras Ane Carine Meurer, do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSM, e Maria Manuela Guilherme, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal.
Na época, a gestão da Casa Familiar Rural de Catuípe solicitou que sua trajetória fosse contada em um livro, como um retorno social da Universidade. Desse modo, o projeto teve o objetivo de sistematizar essa produção territorial, reconhecendo e dando visibilidade ao modo como os jovens e suas famílias produzem suas vidas no campo, bem como à importância desta escola, que tem produzido emancipação e possibilitado a permanência de 90% dos jovens no campo.
A partir de um estudo que envolveu gestores e associação de agricultores da escola, vivências, observações e entrevistas com 60 egressos formados entre 2008 e 2016, entre outros depoimentos, o livro, intitulado “Escola de Ensino Médio Casa Familiar Rural Três Vendas Catuípe: 15 anos de educação e emancipação do jovem do campo” (Editora Facos-UFSM), de autoria da técnica em assuntos educacionais do CE Angelita Zimmermann e coautoria de Ane Carine Meurer e Venildo Turra, diretor da escola, foi lançado no último dia 30 de outubro, na escola.
A Casa Familiar Rural Três Vendas foi fundada em 2005 e, nestes 15 anos, trabalha com formação em agricultura. Inicialmente, oferecia curso de qualificação aos agricultores e, desde 2013, certifica o Ensino Médio em Agricultura. São camponeses que buscam uma educação que possa contribuir com a melhoria das condições de vida do jovem do campo. As famílias têm cinco integrantes em média, que possuem em torno de 12 hectares por estabelecimento familiar agrícola, sendo todos proprietários da terra. O trabalho é exclusivamente familiar e possui uma característica reprodutiva baseada na diversificação de culturas, relacionada à produção leiteira, grãos, hortifruti, ovos, suínos, gado, peixes, mel, entre outras.
Os egressos desenvolvem um projeto profissional de vida iniciado desde a formação na escola e que continua sendo essencial para a reprodução familiar, possibilitando que continuem o trabalho e modo de vida dos pais.
O objetivo principal da escola está relacionado com a sucessão intergeracional e a produção de uma agricultura sustentável, com vistas à biodiversidade e à soberania alimentar no território. Estes camponeses objetivam, sobretudo, a maior auto-sustentabildade possível no seu espaço de produção (trabalho familiar, recursos naturais, fertilidade do solo, água, produção alimentar, trocas de serviços, maquinários e saberes, lazer e vivência comunitária), o que tem ajudado a melhorar a qualidade de vida de suas famílias, das comunidades e do território.
“Com essa obra, que entrelaça ensino, pesquisa e extensão, esperamos visibilizar o reconhecimento da importância do camponês e de espaços de formação contra-hegemônicos na contemporaneidade, ampliando a interrelação UFSM-comunidade”, afirma Angelita.
Trezentos exemplares do livro, pagos pela associação EEMCFRTV e parceiros da escola, serão entregues gratuitamente aos egressos da escola, professores e gestores. Aos demais interessados, os livros serão vendidos, podendo ser adquiridos junto à escola, pelo e-mail v.turra@hotmail.com.
Foto: Divulgação