O professor Eduardo Botti Abbade, do Departamento de Ciências Administrativas do Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH) da UFSM, teve recentemente um artigo publicado em um importante jornal de impacto internacional, o World Development. Intitulado “Estimando a perda nutricional e o potencial alimentar derivado das perdas alimentares em todo o mundo”, o estudo estima a perda nutricional derivada da perda de alimentos registrada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) no mundo. O artigo também converte a perda nutricional em potencial alimentar em número de indivíduos adultos.
Como principal resultado, o estudo sugere que a quantidade de perda de alimentos registrada pela FAO em 2017 seria suficiente para alimentar cerca de 940 milhões de indivíduos adultos – o bastante para alimentar a população em condição de desnutrição no mundo. Também evidencia quais são os países que apresentam maiores níveis de desperdício nutricional com relação ao tamanho de suas populações desnutridas (Estados Unidos, Brasil e China) e evidencia ainda que milho, arroz e trigo e seus produtos derivados são os grupos de alimentos responsáveis pela maior perda nutricional no mundo.
O estudo propõe a adoção de uma métrica de avaliação do desperdício alimentar, convertendo-o em potencial nutricional. Os dados do desperdício de alimentos (food losses) são disponibilizados anualmente pela FAO, tendo como base suas estimativas oficiais e dados de compilação. Cada alimento tem seus dados detalhados, além de também ser disponibilizada a quantidade de macronutrientes fornecidos como suprimento alimentar para as nações do mundo dos mesmos tipos de alimentos.
Segundo a FAO, esta estimativa representa essencialmente a quantidade da mercadoria em questão perdida por desperdício durante o ano em todas as fases, desde a produção até o domicílio, englobando principalmente as atividades de armazenamento e transporte ao longo da cadeia de suprimentos alimentar. As perdas que ocorrem antes e durante a colheita, assim como os resíduos de partes comestíveis e não comestíveis da mercadoria que ocorrem no domicílio, são excluídas.
Métrica de desperdício nutricional e potencial nutricional
Segundo Eduardo, para criar a métrica de desperdício nutricional e potencial nutricional em número de indivíduos adultos, os dados de desperdício de alimentos (por tipo de alimento) foram transformados em desperdício de quilocalorias e proteína, considerando o dado médio de quantidade de quilocalorias e proteínas por tonelada do alimento. Isso permitiu analisar o montante de calorias e proteínas desperdiçadas no mundo no ano de 2017 (dados mais atualizados). Após essa análise, tal montante foi convertido em número de indivíduos adultos, considerando como valor de conversão uma adaptação geral à recomendação internacional de ingestão calórica e proteica para indivíduos adultos (2.000 kcal e 50g de proteína por dia). Após essa conversão, foi identificada a quantidade de indivíduos que poderiam ser alimentados com a quantidade de alimentos desperdiçado no mundo e nas nações analisadas.
Segundo o autor, a compilação e a análise dos dados foi a parte mais complexa e trabalhosa na hora de construir o artigo. Eduardo conta que, inicialmente, estava trabalhando com dados da FAO de 2013, que eram os mais atualizados na época. No entanto, após a primeira rodada de avaliação do artigo feita pelos revisores do Journal World Development, a FAO disponibilizou dados relacionados ao desperdício de alimentos no mundo de 2014 a 2017. Com isso, todas as análises feitas tiveram de ser atualizadas.
Eduardo afirma que o trabalho já está reverberando pela comunidade acadêmica que se dedica ao estudo da segurança alimentar. Além da publicação, ele foi convidado para, no final do ano, participar do 4th International Conference on Global Food Security, em Montpellier, na França, para falar sobre a temática abordada no artigo.
“É muito gratificante para um pesquisador ver seu trabalho publicado em veículos de impacto internacionais e fomentar discussões pertinentes ao meio científico. Agradeço imensamente à UFSM por me proporcionar as condições necessárias para que eu possa me dedicar às atividades de pesquisa científica, e também à Fapergs, que apoia financeiramente esta pesquisa”, finaliza Eduardo.
Texto: Vitória Faria Parise, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista da Agência de Notícias