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Estudantes da UFSM avaliam o Regime de Exercícios Domiciliares Especiais (REDE)



Com a suspensão das atividades presenciais, em 17 de março, em decorrência da pandemia do novo coronavírus, a UFSM possibilitou a adoção do Regime de Exercícios Domiciliares Especiais (REDE), que tem o objetivo de manter a conexão e a comunicação entre docentes e discentes durante este período e é orientado pelas Instruções Normativas 02/2020 e 03/2020 da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd).

Buscando fazer um diagnóstico sobre a participação e o aproveitamento do REDE, a UFSM realizou duas pesquisas de avaliação. O primeiro foi um questionário aplicado aos docentes, cujo resultado pode ser conferido aqui.

A última pesquisa envolveu os alunos dos níveis médio/técnico, graduação e pós-graduação da Instituição. O resultado disponibilizado mostra que, ao todo, 8.289 alunos responderam o questionário, o que corresponde a 32% da totalidade dos estudantes e 43% dos estudantes com cadastro de Benefício Socioeconômico.

Dentre os que responderam, 86% optaram e conseguiram participar do REDE. Entre os motivos para não participar do REDE, foram apontadas dificuldades psicológicas causadas pelo isolamento social (44%), dificuldades no contexto familiar, econômico ou de trabalho (34%), não concordar com a adoção do REDE (34%) e, em quarto e quinto lugar, respectivamente, baixa qualidade de internet (29%) e equipamento de acesso inadequado ou com problema (29%). O questionário também coletou informações para auxiliar no Plano de Retorno, como a cidade, região e estado do qual os alunos estarão retornando. Mais informações sobre a pesquisa podem ser conferidas aqui.

Segundo o coordenador da Comissão Própria de Avaliação (CPA) da UFSM, Fernando Pires Barbosa, um dos papéis da CPA é expor os resultados para que as pessoas, por si mesmas, possam analisar as informações que se têm disponíveis e, assim, tomar as melhores decisões. Além disso, a expectativa da Comissão é de que o resultado da pesquisa como um todo contribua para que a Instituição defina as suas políticas da melhor forma possível.

Para entender mais sobre a percepção que os estudantes têm sobre o REDE, leia a seguir o relato de quatro estudantes de graduação da UFSM.

Estefany Della Flora, aluna do 3º semestre de Medicina

Experiências positivas 

Estefany Della Flora, estudante do 3º semestre de Medicina, já viveu uma experiência de ensino remoto, pois foi desta forma que estudou para ser aprovada no Enem, e afirma que essa experiência prévia permitiu ter mais facilidade em se organizar para estudar com o REDE,  mas que ainda assim enfrenta alguns desafios em se adequar à nova metodologia. Ela acredita que o REDE possa funcionar como uma ótima ferramenta no período de distanciamento social, principalmente por manter o vínculo entre professores e alunos e contribuir bastante para dar andamento ao semestre. Contudo, afirma que para que o REDE seja positivo nesse período e que não deixe nenhum estudante para trás, deve-se levar em consideração as especificidades de cada curso e aluno, pois a UFSM é um universo que engloba realidades muito diferentes, tanto do tipo de ensino nos diferentes cursos, quanto dos contextos sociais, econômicos, culturais nos quais os acadêmicos estão inseridos.

Em geral, Estefany avalia que teve experiências positivas com o REDE, sobretudo por conta das disciplinas em que os professores se dedicaram a manter o nível do ensino. Conforme ela, o ideal seria fazer as atividades teóricas concomitantemente com as práticas, mas no cenário atual pode ser benéfico adiantar parte das aulas teóricas e realizar as atividades práticas posteriormente, quando houver segurança.

Por fim, ela conclui que o REDE deve servir como um meio de suporte aos estudos nesse período de distanciamento social, mas que não substitui as aulas presenciais, as quais, acredita, devem ser ministradas, ainda que em menor período de tempo, quando o semestre presencial retornar, para revisar os conteúdos abordados ao longo do semestre no REDE.

Bruna Carvalho cursa o 1º semestre de Agronomia

Rotina de estudos 

Bruna Carvalho veio de São Paulo para Santa Maria para estudar na UFSM e atualmente cursa o 1º semestre de Agronomia. No início da pandemia, decidiu permanecer em Santa Maria, apesar da saudade e preocupação com a família, por duas razões principais: a continuação dos estudos do grupo de pesquisa do qual faz parte, pois ainda haviam experimentos no campo – que, relembra ela, foram realizados com todos os cuidados necessários contra a Covid-19 -, e o perigo de realizar uma viagem interestadual, sobretudo para São Paulo, que então era o epicentro da doença no Brasil.

Para se adaptar ao REDE, ela montou uma rotina de estudos que, apesar da dificuldade em manter, é a solução que encontra para controlar a ansiedade e participar das atividades propostas pelos professores.

Na sua percepção, os maiores desafios são a adaptação ao sistema, visto que alguns professores decidiram mandar com moderação o conteúdo, enquanto outros aceleram um pouco mais, e a falta de acesso igualitário, algo que ela mesma enfrentou nos primeiros dias, por não ter computador, e isso fez com que ela acumulasse matérias atrasadas.

Nas disciplina com créditos práticos, os professores estão sendo criativos. Um deles, por exemplo, grava vídeos da aula prática no laboratório e envia aos alunos, que devem buscar adquirir o material no quintal da própria casa.

Por estar no primeiro semestre, pôde conhecer os colegas na semana de acolhimento, e vê a relação da turma em si como muito boa, com empatia e disposição para ajudar uns aos outros. Os professores, contudo, ela não teve a oportunidade de conhecer pessoalmente. Mesmo assim, a maioria deles criou vínculos virtuais com os estudantes. Para Bruna, essa experiência tem sido uma “montanha-russa”, com dias felizes, dias normais e dias cinzas, mas a relação com os colegas e professores ajuda a enfrentar as dificuldades.

Gustavo Salin Nuh, do 3º semestre de Comunicação Social – Jornalismo

Dificuldades encontradas

Gustavo Salin Nuh, do 3º semestre de Comunicação Social – Jornalismo, participou do REDE até o início de junho. Em um primeiro momento, conseguiu conciliar a rotina de aulas com os aspectos pessoais do dia a dia. Porém, após algum tempo, ao participar das aulas e atividades, começou a sentir sintomas de ansiedade e teve alguns ataques de pânico. Isso fez com que ele parasse de acompanhar as aulas e aguardasse a recuperação presencial das atividades.

Outro problema enfrentado na hora de montar uma rotina de estudos e acompanhar as aulas foi um problema técnico em seu notebook. Para lidar com a falta do aparelho, fez alguns do trabalhos das disciplinas à mão e encaminhou foto do trabalho para os professores. Além disso, buscou auxílio em materiais impressos, livros que têm em casa, que, apesar de ser uma ferramenta limitada, é o que está disponível. “Isso deixa tudo um pouco restrito, mas tenho feito o que posso”, afirma.

Durante este semestre, ele teria três disciplinas de créditos práticos, mas a falta de equipamento e softwares necessários para as atividades faz com que não tenha como participar de uma forma eficaz e de qualidade, e sim de maneira improvisada. Gustavo também é integrante do Programa de Educação Tutorial da Comunicação (PETCom), e por ser bolsista se manteve participando ativamente, realizando as reuniões pelo celular ou, quando possível, por meio de um computador emprestado.

“Com base nessa experiência, acho que o REDE não é uma ferramenta plural, não abraça os discentes em sua totalidade. Há alunos e alunas que não possuem acesso à internet, ou que tiveram problema com o equipamento eletrônico/digital”, afirma ele, que também aponta a falta de auxílio e preparo prévio dos professores para dar aula por essas ferramentas.

Marília Machado Moureira (canto superior esquerdo) em videoconferência com colegas do 8º semestre de Engenharia Civil

“Negar o REDE é negar a realidade”

Marília Machado Moureira, 8º semestre de Engenharia Civil, lembra que as disciplinas são pensadas e planejadas para serem dadas presencialmente, mas em uma situação imprevisível como esta, as soluções devem ser diferenciadas. “Acho que negar o REDE é negar a realidade, porque a gente não tem previsão de retorno das atividades, então as disciplinas viáveis de se fazerem a distância devem ser feitas por quem tem condições”, afirma a estudante.

Os maiores desafios da participação são manter a rotina, o cansaço e a pressa que as aulas online parecem causar nos alunos, maior em relação às aulas presenciais, e a necessidade de se manter em contato com os colegas, pois muitos dos projetos são em grupo, além de ter que adaptar os cronogramas de maneira remota.

Visando facilitar, os professores adotaram a técnica de realizar atividades a cada 15 dias, e não semanalmente. Para Marília, isso fez com que a constância de acompanhamento das disciplinas seja melhor do que presencialmente, porque no regime presencial havia dias em que ela não estava disposta a prestar atenção, e agora assiste às aulas em momentos que está disposta a vê-las.

Além de participar das aulas e atividades, Marília também está fazendo estágio não-obrigatório, visto que muitas das empresas de engenharia de Santa Maria estão funcionando. Precisou parar por um mês, mas voltou a trabalhar em abril, com várias adaptações de higiene e distanciamento na empresa, e para ela, isso ajuda a ter uma rotina mais definida.

No geral, Marília avalia que é legal ver o empenho de todos, já que é visível que todo mundo que está vivendo isso está tendo que se esforçar bastante, tanto professores quanto alunos, e isso cria um elo entre a turma.

Texto: Ana Laura Iwai, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista da Agência de Notícias
Fotos: Arquivo Pessoal e Reprodução

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