Na última quinta-feira (18), a 1ª Jornada Multidisciplinar de Enfrentamento da COVID-19 debateu a importância a importância de levantamento e divulgação de dados e estratégias para o combate da pandemia da Covid-19. O evento acontece na modalidade online até esta sexta-feira (19), com transmissão pelo Farol UFSM, onde as palestras já estão disponíveis.
A primeira palestra, “Observatório de Dados do COVID-19 e seu comprometimento em produção de informações e estudos em saúde: o durante e o pós-pandemia”, foi ministrada pelo doutor Jessye Melgarejo do Amaral Giordani professor de Odontologia da UFSM e coordenador do Observatório de Dados da UFSM. Criado no dia 31 de março, 14 dias após o primeiro caso confirmado de Covid-19 em Santa Maria, o Observatório surgiu para responder a um chamamento do Ministério Público Federal à comunidade acadêmica. Um grupo foi criado com a tarefa de realizar projeções e elaborar propostas científicas, que são disponibilizadas à sociedade e aos gestores públicos encarregadas da tomada de decisão acerca das medidas de contenção da pandemia. Seus quatro objetivos principais são: o monitoramento constante de casos; apoio à gestão; produção de conhecimento e informação para a população.
A equipe do observatório é composta por profissionais de quatro unidades de ensino: Centro de Ciências da Saúde, Centro de Ciências Naturais e Exatas, Centro de Ciências Sociais e Humanas e Centro de Tecnologia, com o auxílio da unidade de apoio Centro de Processamento de Dados da UFSM. Os colaboradores são docentes, vinculados a dez departamentos diferentes, alunos de pós-graduação e técnico-administrativos em educação da universidade, divididos em nove Grupos de Trabalho: Estatística e Georreferenciamento, Pesquisa Qualitativa, Projetos e Editais, Apoio à Gestão e Site.
Observatório conta com o auxílio das 4ª e 10ª Coordenadorias Regionais de Saúde, Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul e da Secretaria Municipal de Saúde de Santa Maria, mais especificamente da vigilância epidemiológica, com o qual há uma relação de interdependência: os dados são fornecidos pela vigilância e o observatório os organiza, interpreta e tornam em conhecimento para o público. A comunidade em geral também tem participação significativa, por meio de dúvidas e feedback enviados pelo e-mail disponível no site.
Após apresentar e contextualizar o Observatório, o professor demonstrou aos espectadores como utilizar o observatório, quais as suas funções e como acessá-las.De acordo com Jessye, a expectativa é que, no futuro pós-pandemia, o Observatório continue com um trabalho de acompanhamento em outras áreas da saúde pública, além de continuar contribuindo para a produção de conhecimento, monitoramento e apoio à gestão.
Distanciamento social ainda é a principal medida para o enfrentamento da pandemia
A segunda palestra da noite foi a “Relação entre as medidas restritivas e de distanciamento social e a mitigação do processo de enfrentamento do COVID-19”, apresentada pelo professor e médico infectologista Alexandre Vargas Schwarzbold.
O professor abordou inicialmente a importância da testagem, o número de testes realizados no Brasil, mostrou tabelas comparativas, provenientes da pesquisa feita pela Imperial College (Londres – Reino Unido), entre a quantidade de casos, número de testes e mortalidade no Brasil em relação a outros países também gravemente afetados pela pandemia.
De acordo com Schwarzbold, os dados demonstram que os países mais afetados não adotaram um isolamento social rigoroso, sendo esse países os Estados Unidos, Brasil, Rússia, Espanha e Itália, em ordem decrescente de número de casos. O médico explicou também o caminho de transmissão do coronavírus no Brasil, que começa em um caso importado no mês de fevereiro, passa para uma etapa intermediária (em grupamentos relacionados) e chega à etapa atual, que é a transmissão comunitária, onde não há contato com o primeiro caso.
Schwarzbold elucidou conceitos científicos para o público, tais como R0 e Rt, parâmetros altamente dinâmicos que traduz a quantidade de pessoas infectadas através de um caso. Esses conceitos serviram como base para comparar o isolamento social horizontal e o vertical, duas possibilidades que permeiam as decisões de governos dos países afetados. O professor explicou que, em isolamento vertical, apenas pessoas que são de grupo de risco ficariam isoladas e o restante estaria exposto, buscando a “imunidade de rebanho”. Para que esta estratégia funcione, no mínimo 30% da população deveria ser infectada. Um artigo publicado por um grupo da Universidade de São Paulo mostra que através desse modelo, 200 mil pessoas do grupo de risco ainda estariam infectadas.
Já o isolamento social horizontal, próximo ao que foi adotado no Brasil, provou ser mais eficiente. Conforme um estudo feito na região metropolitana de São Paulo, a restrição social fez com que o Rt, número de reprodução em função do tempo, caísse dramaticamente. Ultimamente, a melhor forma de enfrentamento seria o achatamento da curva, alcançado pelo distanciamento social, junto com testagem em larga escala e mapeamento de contato.
Com relação aos efeitos econômicos do isolamento social causado pela pandemia, problema muito debatido, sobretudo pelas autoridades governamentais, Schwarzbold lembrou de estudo feito na Dinamarca, de comparação entre as economias deste país com a da Suécia. Embora ambos tenham sofrido recessão, a Dinamarca, que realizou um isolamento horizontal, apresenta um melhor quadro de recuperação do que a Suécia, que optou por não adotar a medida.
Reportagem: Ana Laura Iwai, bolsista de jornalismo da Agência de Notícias da UFSM.
Edição: Davi Pereira