O Grupo de Dança Extremus encerra em dezembro as atividades do projeto de extensão “Dançar as coisas do pago”, espetáculo montado durante o ano de 2018 e apresentado no Teatro Treze de Maio no dia 7 de novembro. O grupo, que é vinculado ao curso de Licenciatura em Dança da UFSM e fundado em 2001 pela professora Mara Rubia Alves, atua na realização de um trabalho multidisciplinar que visa a inclusão social e promoção da autoestima de pessoas com necessidades especiais.
O espetáculo teve a direção artística e roteiro da professora Mônica Corrêa de Borba Barboza, que atualmente divide a coordenação do grupo com a professora Mara Alves, e foi contemplado no edital “Palco Treze, o palco da cultura”, com financiamento da Lei de Incentivo à Cultura. Trata-se de um espetáculo pioneiro em acessibilidade,contando com audiodescrição simultânea para pessoas com deficiência visual e interpretação em LIBRAS. A direção musical foi do cantor e compositor Pirisca Grecco, que contou com a presença dos artistas Texo Cabral e Rafa Bisogno na execução da trilha sonora ao vivo. Acadêmicos dos cursos de bacharelado e licenciatura em Dança da UFSM deram suporte de contrarregragem, iluminação e recepção ao público.
A obra teve como inspiração a vida do povo gaúcho. O trabalho propõe um olhar que ressignifica padrões historicamente construídos, em que os artistas expressam e movimentam seus modos de pertencimento a cultura. O espetáculo foi criado com o elenco e pelo elenco, convidando aperceber o ser gaúcho e gaúcha a partir da diversidade de corpos(com ou sem deficiências) que dançam e sonham outras realidades. Os bailarinos trouxeram suas percepções acerca de temáticas como o inverno, as diferentes formas de amar, as questões de gênero envoltas no imaginário social do gaúcho e a importância da mulher na história, a lida do campo e os cavalos, as diferentes nuances musicais cotidianas aos bailarinos, como o funk,por exemplo, e o Massacre de Porongos, demarcando a força e importância do povo negro na constituição da cultura e denunciado o episódio ocorrido com os Lanceiros Negros na Revolução Farroupilha.
Pioneirismo na acessibilidade
Todos os aspectos do espetáculo “Dançar as coisas do Pago” foram elaborados com o objetivo de garantir a acessibilidade. Para isto teve a colaboração da Pró-Reitoria de Extensão, do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) e do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão da universidade. A Comissão de Audiodescrição do núcleo subsidiou o trabalho da roteirista e audiodescritora Mariangela Scheffer Cardoso. Já o trabalho de tradução em LIBRAS foi realizado pela acadêmica Aline Prado. O programa impresso em braile foi elaborado pela professora do Departamento de Educação Especial, Josefa Costa Pereira.
As pessoas com deficiência visual foram convidadas a entrar no Teatro Treze de Maio com uma hora de antecedência para uma visitação guiada com audiodescrição simultânea: guiados pelo palco para conhecerem as texturas, espaço cênico, cenários e todos elementos presentes na cena, além da autodescrição dos próprios músicos. Todas as peças de divulgação foram audiodescritas, além de material em áudio produzido para circulação em outras mídias.
Uma das inovações pensadas durante a montagem foi a presença das famílias em cena, com a participação de de cinco mães de bailarinos que aceitaram o convite das professoras para participar do elenco. O Grupo Extremus é formado por bailarinos e monitores com ou sem deficiências. Os monitores são acadêmicos de diferentes cursos, como Terapia Ocupacional, Educação Física e Dança, que participam das ações artísticas e pedagógicas desenvolvidas com pessoas da comunidade de Santa Maria.
Após a estreia de “Dançar as coisas do pago”, o Grupo pensa em uma possível temporada de apresentações para o próximo ano, além de já estar projetando a elaboração de materiais audiovisuais sobre a montagem e artigos para divulgação acadêmica.
Texto: Mônica Corrêa de Borba Barboza, professora do curso de Dança-Licenciatura da UFSM
Edição: Davi S. Pereira
Fotos: Joan Felipe Michel