Nesta quinta feira (25) teve início o 7º Encontro Regional Sul de História da Mídia, cuja temática, este ano, trata de “Comunicação, História e Cidadania – 30 anos da Constituição Cidadã x 50 anos do AI-5”. Durante a cerimônia de abertura do evento, promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (Alcar), estiveram presentes professores e estudantes de graduação e pós graduação de diversas universidades do Brasil, bem como pesquisadores internacionais que puderam prestigiar, além da fala dos representantes da mesa oficial, a apresentação do Coral de Trombones e Tubas da UFSM, regido pelo professor Diego Ramires.
A mesa de abertura do encontro foi composta pelo pró-reitor de Extensão e professor do Departamento de Ciências da Comunicação, Flavi Ferreira Lisboa Filho, que representou o reitor da Universidade, e pela presidente da Rede Alcar, Ana Regina Rêgo. Também participaram da mesa a coordenadora local da Alcar e professora do Departamento de Ciências da Comunicação, Sandra Rúbia Silva, e o professor Cássio dos Santos Tomaim, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (Poscom) da UFSM.
Durante a cerimônia, a presidente Ana Regina destacou os 17 anos de existência da Alcar, bem como salientou a importância do evento em seu esforço de promover a democracia. Segundo ela, é necessário entender o papel dos pesquisadores em comunicação e de seus trabalhos no resgate histórico da memória como objetos essenciais da libertação e nunca de escravidão.
Aula magna trata da cidadania comunicacional e da imprensa alternativa no Brasil
Após a abertura, teve início a primeira mesa de debates do evento. A conferência e aula magna ministrada pela professora e doutora em Ciências da Comunicação Cicília Peruzzo debateu o papel da imprensa alternativa no Brasil, desde os tempos do regime militar até os dias atuais.
Intitulada “Movimentos sociais e cidadania comunicacional: da imprensa alternativa dos anos da ditadura militar ao midiatismo da atualidade”, a palestra trouxe reflexões importantes acerca do papel da comunicação alternativa para a democratização do processo comunicacional, bem como ressaltou, a partir de exemplos, a importância dos movimentos sociais dedicados à produção de conteúdos noticiosos e críticos, que contrariam o trabalho realizado e veiculado pela mídia tradicional.
Cicília explica que a imprensa alternativa é aquela que se dedica ao trabalho noticioso fora dos padrões convencionais, trazendo um nova visão da sociedade. Além disso, busca o empoderamento dos meios de comunicação para expressar os discursos das organizações e movimentos sociais através da crítica, da reivindicação e de denúncia. “Isso significa que a imprensa alternativa tem sempre um viés progressista”, ressalta. Durante sua fala, a professora comentou sobre a diversidade de conteúdo dos mais de 150 jornais alternativos criados entre os anos do regime militar no Brasil. Segundo Cicília, atualmente essa imprensa se recria, mas não perde o caráter de resistência.
Durante a palestra, a professora ressaltou a liberdade e a igualdade como princípios básicos da cidadania, mas que foram negados durante o período da ditadura no país e que, atualmente, são cada vez mais dificultados. Nesse sentido, ressalta que o processo de democratização da comunicação no Brasil ainda não acabou. Se com o surgimento da internet foi possível a liberdade de produzir, compartilhar e consumir conteúdos diversos, em contrapartida, percebe-se que há uma apropriação distorcida do meio, para fins de contra-cidadania. A partir disso, surgem as famosas fake news, por exemplo.
Embora a plataforma digital tenha ampliado, para outros atores, a capacidade de intervir na comunicação e, além disso, tenha revelado um novo desafio para o ativismo midiático, ou midiativismo, conforme trata a professora, Cicília considera que a imprensa alternativa consegue sobreviver muito bem ao cenário que está posto. Para ela, a comunicação alternativa tem algo sério a dizer e o faz através da solidariedade dos atores que compõem as redes de midiativismo, preocupados em proporcionar uma análise crítica, contextualizada e situada da realidade. Seu objetivo continua sendo uma comunicação livre e horizontal, na busca de uma sociedade equilibrada e democrática.
Cicília ressaltou ainda a diversidade de protagonistas que incorporam a imprensa alternativa, destacando o papel dos hackers, Organizações Não Governamentais (ONGs), coletivos populares, jornalistas e movimentos sociais. Por fim, lançou uma provocação, questionando se os cursos de comunicação do Brasil, através das disciplinas de história da mídia, estão preocupados em estudar a comunicação não tradicional e os círculos paralelos da mídia. Nesse sentido, alertou os pesquisadores e historiadores para a necessidade de estar atento aos fatos e movimentos sociais, para que a história não seja contada de maneira incompleta.
O 7º Encontro Regional de História da Mídia acontece até esta sexta-feira (26), com atividades no Salão Imembuí, no segundo andar do prédio da Reitoria, e nos prédios do CCSH. A programação envolve, além de palestras, oficinas e Grupos de Trabalho (GTs) com temáticas relacionadas à comunicação.
Texto: Bárbara Marmor, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Fotos: Laura Coelho de Almeida, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti