“A educação precisa ser tratada como direito humano universal, sobretudo como bem público, um dever do Estado, ainda que na contramão de correntes históricas que entendem a educação superior com um privilégio”, afirmou o reitor da UFSM, professor Paulo Afonso Burmann, nesta terça-feira (25), em Porto Alegre. Burmann foi um dos painelistas do evento “A educação superior no pós-Cres 2018”, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Com a participação de reitores de instituições públicas de ensino superior do país e do exterior, o painel teve como objetivo debater os rumos da educação superior na América Latina e Caribe, a partir das perspectivas e desafios apontados durante a 3ª Conferência Regional da Educação Superior (Cres 2018), realizada em Córdoba, na Argentina, em junho deste ano. O painel na Ufrgs foi promovido pela Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (Abruem) e Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif).
Participando da mesa “O significado do manifesto da Cres 2018 para a educação superior na América Latina e no Caribe”, Burmann defendeu um maior comprometimento das universidades com as comunidades e com a defesa da educação superior: “As universidades precisam descer do seu pedestal. Precisamos compreender as demandas sociais também como de nossa responsabilidade. Isso não significa que a universidade deva substituir o papel do Estado, uma vez que nós fazemos parte do Estado”. Para o reitor, os obstáculos apresentados diariamente às universidades demandam ainda mais seriedade e responsabilidade na gestão das instituições de ensino superior. “Sabemos que por vezes batemos em barreiras intransponíveis, mas vamos continuar batendo sobre elas, porque essa é a forma de tentar romper todo esse cenário, esse círculo de opressão que se dirige sobre o sistema de educação superior no Brasil”, argumentou.
O reitor da UFSM ainda salientou a importância da cooperação internacional entre as universidades da América Latina e Caribe. “Nossa cultura, nosso conhecimento, nossas universidades precisam estar atentas e participativas junto aos seus respectivos governos, costurando a estratégia da preservação regional de forma totalmente integrada, como estratégia não apenas de resistir, mas como estratégia de avançar”, defendeu Burmann. Para ele, a cooperação regional deve ser um projeto estratégico e inteligente, desenvolvido a partir das universidades.
Além do reitor da UFSM, também participaram da mesa a consultora acadêmica para redes universitárias da Iesalc, Débora Ramos, e o reitor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Gustavo Vieira, sob a coordenação do secretário de Relações Internacionais da Ufrgs, Nicolas Maillard. Em sua fala, Débora apresentou a metodologia de construção do plano de ação, que é resultado da conferência de Córdoba. O plano, que está em fase de desenvolvimento, deverá reunir um conjunto de tarefas e ações estratégicas que possam nortear as políticas de ensino superior na região nos próximos anos. Já o reitor da Unila salientou que a Cres se configurou como uma oportunidade de avaliar as universidades a partir de uma identidade própria, enfatizando o potencial transformador das instituições e a responsabilidade com o desenvolvimento regional.
Discussões – A abertura do painel, em Porto Alegre, contou com a presença do reitor da Ufrgs, Rui Vicente Oppermann, da diretora de Relações Institucionais do Conif e reitora do Instituto Federal Farroupilha (IFFar), Carla Comerlato, do presidente da Abruem e reitor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Haroldo Reimer, e do presidente da Andifes e reitor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Reinaldo Centoducatte. Os debates tiveram início com a participação do coordenador-geral da Cres 2018 e ex-reitor da Universidade Nacional de Córdoba, Francisco Tamarit, que fez uma avaliação da conferência. Segundo ele, a Cres 2018 ocorreu em uma época em que a universidade está sendo questionada na sua essência mais profunda.
A programação do painel teve continuidade à tarde, com as mesas “O significado do manifesto da Cres-2018 para a educação superior no Brasil” e “O que fazer com o manifesto Cres-2018 nos próximos 10 anos”. No encerramento do evento, foram apresentados os tópicos para a redação de um documento final, a Carta de Porto Alegre, que será enviada às associações nacionais, à Iesalc e às demais entidades latino-americanas. A Carta também será encaminhada aos presidenciáveis das Eleições 2018.
Cres 2018 – Promovida pelo Instituto Internacional para a Educação Superior na América Latina e no Caribe (Iesalc), entre os dias 11 e 15 de junho deste ano, a Cres 2018 teve como sede a Universidade Nacional de Córdoba. Uma das reuniões preparatórias para a Conferência Mundial sobre Educação Superior (agendada para 2019, na França) e considerada um dos eventos regionais mais importantes sobre educação superior, a conferência reuniu mais de 5 mil participantes, representando instituições de Ensino Superior de 33 países da América Latina e do Caribe.
O evento teve como foco o debate acerca de critérios, propostas e linhas de ação para a consolidação da educação superior como um bem social, um direito humano e universal, sob responsabilidade dos Estados. Ao final da conferência, foi uma elaborada uma Declaração Final.
Texto: Assessoria de Comunicação do Gabinete do Reitor, com informações da Assessoria de Imprensa da UFRGS