Na fronteira gaúcha, região de divisa entre Brasil e
Argentina, as pessoas falam diferente. A língua naquela região possui muita
influência do espanhol, o que originou expressões como “bem capaz”, “cusco”,
“eito”, entre outras, bastante usuais, porém, não encontradas nos dicionários de língua portuguesa.
Para que os moradores de outras regiões possam compreender o significado destas palavras, o grupo do Programa de Educação Tutorial (PET) Letras da UFSM criou o
Dicionário Compartilhado de Língua da Fronteira. Elaborado por estudantes de
escolas de Itaqui, o Dicionário foi lançado na última semana.
A produção do Dicionário
Compartilhado de Língua de Fronteira foi proposta pelo Grupo PET do curso de Letras, que, para isso, firmou parceria com
o Programa Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF), coordenado pela professora
Eliana Sturza, em 2014.
No título, “compartilhado”
se refere à construção feita entre vários autores, que são crianças e jovens estudantes
das escolas Otávio Silveira e Vicente Solés, de Itaqui, na fronteira entre
Brasil e Argentina. E “de língua da fronteira” porque reúne os verbetes
originados do dialeto que se fala naquela região e, com influência de dois idiomas.
A proposta do trabalho foi
reunir os estudantes para pensar sobre essa linguagem falada na fronteira e que
constitui sentidos. “É provocá-los a refletir sobre a língua que faz deles o
que eles realmente são. A língua da fronteira é a língua portuguesa do Brasil,
mas também é outra, é regional do Rio Grande do Sul e é atravessada pelo
espanhol falado do outro lado do rio”, explica a tutora do PET Letras, professora
Verli Petri.
Os dicionários – um de cada escola – não têm o
objetivo de dar conta da totalidade da língua, bem como não correspondem às
expectativas formais de um dicionário elaborado por especialistas. Foram elaborados
pelos estudantes itaquienses, sob a orientação de integrantes do grupo PET
Letras, supervisionados pela professora-tutora. Além disso, contaram com a
colaboração dos professores de línguas portuguesa e espanhola das escolas.
O projeto objetivou
levar os alunos a refletirem sobre a sua própria língua, a condição de
fronteiriço, a formação de uma identidade linguística e cultural diferenciada.
“Acreditamos que esse trabalho contribui para a formação de sujeitos que falam
a língua, que pensam sobre ela e que vão construindo sua cidadania com orgulho
de ser um ‘sujeito da fronteira’”, comenta Verli.
O lançamento, na manhã
do dia 3, foi seguido de sessão de autógrafos na Escola Pão dos Pobres,
onde o PET Letras realiza outro projeto. Na sequência, os alunos das escolas de
Itaqui, autores dos verbetes, que estiveram presentes, foram levados para um passeio
pela Universidade. À tarde, o lançamento aconteceu no miniauditório do PPG
Letras. Na ocasião, os autores apresentaram um pouco dos seus verbetes.
Os dicionários não estão disponíveis, pois esta é uma edição
limitada. Há um projeto para que sejam transformados em e-book ainda neste ano.
Confira a cobertura do
lançamento feita pela TV Campus:
Texto: Paola Brum, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti