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Projetado em Santa Maria, primeiro nanossatélite brasileiro completa um ano em órbita



Há exatamente um ano, no dia 19 de junho de 2014, uma equipe
de Santa Maria comemorava efusivamente uma conquista para a ciência
aeroespacial do país, que acontecia a 14 mil quilômetros de distância, na base
de lançamento de Yasny, na Rússia. Naquela data, entrou em órbita o
NanoSatC-BR1, o primeiro nanossatélite brasileiro. Fruto de uma parceria do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) com a UFSM, o satélite em
formato de cubo (com 10 centímetros de aresta) segue viajando a uma velocidade
aproximada de 7,5 quilômetros por segundo, suficiente para dar uma volta
completa no planeta a cada 90 minutos. A gravitação se dá na ionosfera, a uma
distância média de 614 quilômetros da superfície terrestre.

Um dos coordenadores do projeto NanoSatC (sigla para “nanossatélite científico”) é o pesquisador Nelson
Schuch, que atua no Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais (CRS) do Inpe,
localizado no campus sede da UFSM. Ele e sua equipe seguem monitorando os
passos do satélite. Entretanto, de acordo com Schuch, as missões
científicas e tecnológicas do artefato já haviam sido completadas com sucesso
três meses após o seu lançamento no espaço.

Modelo igual ao nanossatélite lançado foi apresentado em entrevista coletiva no ano passado. Crédito foto: Felippe Richardt

Pesando pouco menos de 1kg, o nanossatélite leva junto
consigo três cargas úteis: um magnetômetro (integrando a missão científica), e
dois circuitos integrados (como parte da missão tecnológica). No caso da
primeira missão, o objetivo era coletar dados do campo magnético terrestre, especialmente
da Anomalia do Atlântico Sul, na qual se encontra boa parte do Brasil,
incluindo Santa Maria.

Com relação aos circuitos integrados (popularmente
conhecidos como “chips”), um deles foi desenvolvido pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul e o outro, pela Santa Maria Design House (SMDH), a qual é
ligada a grupos de pesquisa da UFSM. Quanto ao chip santa-mariense, um dos
objetivos de sua ida ao espaço era testar a resistência dos materiais de que é
feito. Em posse das informações enviadas pelo nanossatélite, os desenvolvedores
tiveram as suas hipóteses confirmadas: a parte do chip projetada para ter uma tolerância maior à radiação solar apresentou mais resistência que a parte vulnerável do
circuito, o que atestou a fragilidade desta última.

No momento, a equipe de pesquisadores da UFSM e do Inpe
envolvidos no projeto busca aumentar a vida útil do NanoSatC-BR1, desligando as
suas baterias. Isto porque elas não conseguem mais sustentar a carga gerada
pelos painéis solares. É por isso que as antenas de rastreamento e controle do
Inpe, localizadas em Santa Maria e São José dos Campos (SP), não estão mais
recebendo informações do nanossatélite. Assim, a captação de dados só está
sendo possível quando o satélite gravita sobre o hemisfério norte ou nas proximidades
da linha do Equador, onde o seu sinal é sintonizado por radioamadores ­– com os
quais o CRS entra em contato.

O pesquisador Nelson Schuch é um dos coordenadores do projeto NanoSatC

Viagem e projetos
futuros –
Os resultados obtidos com o lançamento do NanoSatC-BR1 serão
apresentados de forma detalhada em Praga, na República Tcheca, durante a
assembleia geral da União Internacional de Geodésia e Geofísica (IUGG), que
ocorre de 22 de junho a 2 de julho. Na comitiva que parte neste sábado (20),
Schuch estará acompanhado por Juliano Moro, bolsista de pós-doutorado do Inpe,
e por dois alunos da UFSM: Thales Mânica, do curso de Engenharia Elétrica, e Pietro
Moro, da Física. Após a assembleia da IUGG, eles partem para a cidade de Delft,
na Holanda. Lá terão reuniões na sede da empresa Isis, fornecedora de
plataformas para nanossatélites. A volta a Santa Maria está programada para 1º
de julho.

Além dos aspectos mais técnicos, durante a apresentação em
Praga o NanoSatC também será abordado sob o prisma da formação acadêmica e
profissional. Incluindo os custos de lançamento, os recursos investidos no nanossatélite
foram de aproximadamente R$ 1 milhão, valor considerado relativamente baixo,
tendo em vista as altas somas de dinheiro geralmente associadas à indústria
aeroespacial. Afora o custo material, este acabou sendo também um investimento
em recursos humanos, já que possibilitou a alunos da UFSM um envolvimento
intenso no projeto e a interação com pesquisadores reconhecidos nacional e
internacionalmente em suas áreas de atuação.

Os recursos humanos formados e o know-how adquirido graças ao “BR1” serão aproveitados para o
lançamento do NanoSatC-BR2, previsto para 2016 nos EUA. A equipe do Inpe de
Santa Maria e a UFSM já estão trabalhando neste novo nanossatélite, cujo
tamanho será o dobro do anterior. Desta vez o formato não será o de um cubo,
mas o de um paralelepípedo (nas proporções 10x10x20, em centímetros). Outra
novidade, é que o “BR2” terá dois magnetômetros, um interno e outro externo.
Para um futuro próximo, dentro do mesmo projeto, está previsto ainda o
lançamento dos nanossatélites “BR3” e “BR4”.

Informações mais detalhadas do projeto – incluindo uma
espécie de “diário de bordo” no link “Notícias” – constam no endereço www.inpe.br/crs/nanosat.

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