Quem chega ao Itep Jr., no segundo andar do Centro de Tecnologia da UFSM, e vê à mesa o presidente Vinícius Zanon, de calça jeans e camisa pólo, pode não saber que se trata de um atleta de seleção brasileira. E de um esporte que não está entre os mais praticados no país, mas que cresce a cada ano e ganha adeptos à medida que se populariza entre os brasileiros: o futebol americano. Na semana passada, o defensive end (jogador da linha defensiva) do Santa Maria Soldiers foi convocado juntamente com outros 77 atletas para o Training Camp da Seleção Brasileira, que acontece entre os dias 27 de abril e 1º de maio, em São Paulo.
O estudante do oitavo semestre de Engenharia Elétrica da UFSM começou a se interessar pelo futebol americano em 2006, quando se reunia com colegas de cursinho para praticar o esporte uma vez por mês. A partir daí, Zanon afirma ter “entrado de cabeça” no esporte: começou a assistir os jogos, acompanhar a Liga Nacional de Futebol Americano, a NFL, a estudar regras e táticas e jogar algumas partidas nos fins de semana.
Zanon conta que o início do Santa Maria Soldiers também remete à essa época. Juntamente com esses amigos, Zanon montou uma equipe que jogava sem os equipamentos. Em 2009, quando novos adeptos do futebol americano começaram a aparecer, surgiu o Santa Maria Soldiers. Foi nessa época que o Soldiers começou a disputar campeonatos, período que coincidiu com o boom do futebol americano no Brasil. Um ano antes, no início de 2008, Zanon estudava no Colégio Técnico Industrial (CTISM) e foi para o Paraná fazer estágio na Usina Hidrelétrica de Itaipu. E o contato com o futebol americano não desapareceu. Pelo contrário.
Na Usina de Itaipu, conversando com um dos colegas de trabalho, Zanon descobriu a existência de um time de futebol americano que estava no início das atividades, o Black Sharks de Foz do Iguaçu. Zanon participou do primeiro jogo Full Pad (com equipamentos) do Black Sharks, e foi o seu primeiro contato com equipamentos já que, na época, o Soldiers ainda não atuava dessa maneira. Durante o período de um ano em que ficou na Usina, Zanon teve contato com um treinador americano, que havia praticado o esporte durante o ensino médio nos Estados Unidos. A experiência foi positiva:
– O time era bem unido. Queria muito jogar contra eles, ia ser uma experiência bem legal reencontrar o pessoal de lá.
Zanon também pôde perceber, desde o seu início no futebol americano até o momento, evolução em vários aspectos que contribuíram para a sua convocação. Uma das mudanças foi na parte física. Em 2008, quando ainda atuava em duas posições (no futebol americano, cada equipe possui um time de ataque e outro de defesa), Zanon pesava 30 quilos a menos. A evolução tática também foi determinante. Desde 2010, quando o time disputou o Campeonato Gaúcho pela primeira vez, Zanon atua como coordenador da linha defensiva. Isso implica em muito estudo através de vídeos de profissionais da liga americana, de adversários e também dos jogos do Soldiers.
Para conciliar os estudos com os treinos e jogos, Zanon afirma não ter muitos problemas, pois o planejamento contribui para a organização das atividades. Além das aulas e dos jogos, Zanon também atua como presidente da Itep Jr., o que, segundo ele, demanda mais tempo do que as outras ocupações. No entanto, Zanon admite que na época de provas finais prioriza os estudos, pois precisa dar importância à carreira profissional, por saber que futuramente não irá viver do futebol americano. Mesmo assim, os treinos de sábado são sagrados para o atleta, que além do futebol americano, também gosta de basquete. No esporte, Zanon chegou a ser campeão estadual, quando ainda estava no colégio e jogava pelo Corintians Atlético Clube.
Embora seja gremista, a grande paixão de Zanon é um time de futebol americano: o Dallas Cowboys, time que atua na Liga Nacional dos Estados Unidos e tem cinco títulos nacionais. E a inspiração também vem do time do Texas. Zanon é fã do defensive end – mesma posição em que atua no Soldiers – DeMarcus Ware, camisa número 94. A identificação com o jogador é tanta que o número da camisa que Zanon usa no Soldiers é a mesma do ídolo.
O custo com equipamentos é um dos pontos mais complicados para a prática do futebol americano. Zanon afirma que é necessário um investimento inicial de cerca de 350 reais para compra dos equipamentos completos. Ele afirma que para ele esse custo financeiro não foi pesado, mas conta que não é assim para todos. Mesmo assim, a disponibilidade para ajudar os companheiros de time é grande. No Soldiers, os jogadores fazem uma espécie de consórcio, onde os próprios integrantes compram equipamentos e sorteiam entre os que pagam.
Sobre a sua convocação para a Seleção Brasileira, Zanon conta que muita gente o cumprimentou e parabenizou a conquista. No entanto, o maior desejo do defensive end do Soldiers é que o time da cidade continue crescendo:
– A alegria que tive quando me ligaram foi indescritível, mas o que eu mais quero é que o time se destaque, porque esse ano promete.
Em 2013, o Santa Maria Soldiers disputará o Campeonato Gaúcho e o Campeonato Brasileiro de Futebol Americano. Zanon destaca que o time tem uma união muito forte, e que a prática do esporte o faz muito bem e, enquanto puder, pretende atuar o máximo possível em alto nível, embora saiba que não vai seguir uma carreira profissional como rumo de vida. Mas faz uma projeção para o futuro ideal:
– Meu sonho é com 50 anos ser treinador do time, e que a gente continue crescendo. – finalizou Zanon.
Fotos: Luciele Oliveira – Acadêmica de Jornalismo.
Repórter: Nicholas Lyra – Acadêmico de Jornalismo.
Edição: Lucas Durr Missau.