Em comemoração ao 50º aniversário da Universidade Federal de Santa Maria, a arquivista do Departamento de Arquivo Geral (DAG), Neiva Pavezi, lançou na Feira do Livro deste ano a obra Concretizando um Ideal: a Cidade Universitária da UFSM de 1960 a 1973, resultante de sua dissertação de mestrado do Programa de Pós-graduação Profissionalizante em Patrimônio Cultural.
A jornada de Neiva como encarregada de contar a história da Universidade através de imagens começou em 2008, ano em que iniciou seu projeto de mestrado. A ideia inicial de sua dissertação era o tratamento de um acervo fotográfico particular de Agudo, tendo em vista que é moradora da cidade. No entanto, ao iniciar seu trabalho no Departamento de Arquivo Geral, tomou conhecimento do acervo fotográfico existente no departamento e, mudou de ideia. Trocou o tratamento de um acervo fotográfico particular por um acervo de, aproximadamente, 85 mil imagens.
A história do DAG
Toda a documentação enraizada no DAG existe desde que a Universidade foi fundada, em 1960. O professor-fundador José Mariano da Rocha Filho, desde sempre, teve a preocupação de fotografar tudo que era produzido, as ações que eram desenvolvidas na Instituição, assinaturas de convênios, eventos e até atividades didáticas. Na época, uma prática comum era tirar fotos de uma cirurgia no Hospital Veterinário ou um procedimento médico no HUSM para servir, depois, de material didático para as aulas. Tamanha era a preocupação em registrar esses momentos que até havia um departamento chamado Serviço Fotográfico, em que fotógrafos profissionais eram contratados. Após um tempo, o cargo de fotógrafo foi criado, e então era necessário prestar concurso. Existia, inclusive, uma sala onde havia todo o equipamento necessário para fazer a revelação dos negativos e as cópias em papel, sendo que esse setor era vinculado direto com o Gabinete do Reitor.
Quando eram requisitados, os fotógrafos faziam o registro e voltavam para a sala, onde faziam a revelação e entregavam a cópia em papel para o Gabinete. Essas fotos geralmente eram usadas para fazer a divulgação em jornais e revistas, principalmente quando a Universidade recebia visitas como Juscelino Kubitschek, Castelo Branco, além de muitas outras autoridades civis e militares. Todas essas fotos, hoje, estão arquivadas no acervo do DAG.
Com a inovação tecnológica, esse departamento foi extinto, porém, o acervo continuou no quarto andar da reitoria. Em meados anos dos 90, o acervo foi recolhido pelo DAG, que começou a fazer um trabalho de indexação, ou seja, uma base de dados. As fotos foram registradas em envelopes, de modo a facilitar a localização.
A dissertação de mestrado que se tornou um livro em homenagem ao 50º ano da UFSM
Desde o início, Neiva sempre teve apoio, tanto de seu orientador como da diretoria do DAG, tendo em vista que, realmente, o acervo precisava de alguém comprometido com o trabalho de organizá-lo. Neiva, então, uniu seu gosto pessoal pela fotografia com a necessidade de organização.
Formada em 1993 em Arquivologia, Neiva teve uma grande caminhada até chegar ao DAG. De docente à consultora em empresas, fixou-se em um objetivo para sua dissertação: ver um conjunto de metadados para fazer toda a descrição do acervo. “Junto com a minha proposta da pesquisa do mestrado, veio a proposta da digitalização, visando sempre a preservação do arquivo. Mas ao mesmo tempo em que esse arquivo digital é criado, é preciso pensar na preservação, porque a tecnologia muda. Então, toda a proposta do mestrado foi para determinar quais seriam os padrões, os critérios, a metodologia adotada para fazer a digitalização, a descrição do acervo, permitindo e ampliando o acesso, usando essa documentação, mas também garantindo o acesso da preservação”, explica Pavezi.
Assim que iniciou a trabalhar no departamento, Neiva foi designada para trabalhar com fotografias, fazendo então todo o estudo do mestrado. “O resultado dessa pesquisa de dois anos foi um catálogo de 89 fotos que, na arquivologia, é um instrumento de difusão, uma obra que faz propaganda de um acervo”, conta a arquivista.
É nesse catálogo que estão fotos da construção da Cidade Universitária, mais precisamente, do início, fase intermediária e conclusão da obra. “Tentamos pegar fotos dos prédios que já existiam até 1973, porque de 1960 a 1973 foi o período de maior intensidade de construção, o maior número de obras ao mesmo tempo. Podemos dizer que, em 1973, já tínhamos o básico do campus e que, após, foi a fase de aperfeiçoamento”, explica.
Foi esse catálogo que deu origem ao livro. No livro, que teve a ajuda de Leandro Freitas no projeto gráfico, há uma contextualização do que foi a ideia da construção do campus, do projeto piloto. Também pode ser conhecida um pouco da luta que Mariano da Rocha fez, desde a época em que estava na direção da Faculdade de Medicina, além de todo o envolvimento na sociedade. Para Neiva, “é uma pincelada básica do que foi o contexto da criação da Universidade, qual era o objetivo, a empresa que foi contratada, como deveria ser cada prédio. É uma questão mais voltada para a arquitetura, o urbanismo da Instituição. E claro, situa o arquivo fotográfico nesse contexto”.
Outro ponto interessante da obra, que conquistou até um espaço como exposição itinerante, é que mostra os dez fotógrafos – identificados – que trabalharam durante os anos da construção da UFSM. “Um dos elementos da descrição arquivística é a autoria do documento. A Universidade tem os direitos autorais das fotos, mas, teve alguém que registrou determinado momento. Temos mania de não dar atenção pra quem é o autor de fotos, mas eu fiz questão de ressaltar esses fotógrafos, que eram servidores da Universidade, contratados ou concursados”, ressalta Pavezi.
A repercussão de todo o trabalho de Neiva pode ser vista na exposição O Passado em Construção no Museu Gama d’Eça até o final de maio. A mostra conta com 28 imagens selecionadas do livro, representativas da construção da Cidade Universitária. E, no dia 12 de junho, será realizado um evento no prédio da Reitoria. Além da exposição de imagens e lançamento do livro, será feita uma homenagem aos dez fotógrafos que registraram a formação da UFSM.
Repórter:
Andréa Ortis – Acadêmica de Jornalismo
Edição:
Lucas Dürr Missau.