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O legado da Educação Física



Os cursos de Educação Física ganharam notoriedade nos anos de 1970, devido ao regime militar que investiu em instalações e centros esportivos e, consequentemente, na criação de cursos. Em 1969, o Conselho Universitário da UFSM criava a Faculdade de Educação Física. O pedido veio do reitor Mariano da Rocha, que solicitou a um grupo de colaboradores da Universidade a criação de uma unidade administrativa de apoio que pudesse atender e ofertar esporte para a comunidade universitária. Assim, o anteprojeto foi levado ao Conselho e aprovado no dia 1° de outubro do mesmo ano. No dia 14 de maio de 1970, instalou-se e teve início o funcionamento da Faculdade de Educação Física.

A comissão de colaboradores era constituída pelo chefe de gabinete da reitoria Antônio Carlos Machado, além de Cyro Mello Schmidz, Renato Lopes Serafim, Pedro Bernardo Muller e o coronel Milo Darci Aita. Assessor de assuntos esportivos e estudantis e presidente da comissão, Milo Aita era o único que tinha uma relação maior com o esporte devido à sua carreira militar. Pensando que, aproveitando a criação de um centro desportivo podia-se criar um centro de formação de professores de Educação Física, ele sensibilizou a comissão e, consequentemente, a Reitoria para a construção de uma unidade universitária. Assim, no dia 6 de outubro de 1971, criou-se o Centro de Educação Física, mais tarde chamado de Centro de Educação Física e Desportos (CEFD).

O primeiro diretor da Faculdade de Educação Física foi o professor Haimo Hartmuth Fensterseifer e o primeiro decano (na época a nomenclatura dada aos diretores) foi Milo Aita. Além de idealizador, o coronel e professor teve grande importância na obtenção de recursos financeiros e conservação do Centro, já que havia pressão por parte de professores de outros cursos para a transformação do CEFD em departamento.

 

 

As construções do prédio iniciaram em 1969, mas a pedra fundamental do estádio já havia sido lançada e homenageava o Ministro da Educação e Cultura da época Tarso Dutra, político que encaminhou muitas verbas para a Universidade e mantinha relações de amizade com o reitor. As plantas previam a construção de três blocos com salas de aula, setores administrativos e arquibancadas a parte da cobertura. O projeto inicial do estádio foi pensado na forma de ferradura, com capacidade para 35 mil espectadores sentados no seu interior. A falta de recursos, entretanto, permitiu apenas a construção do lado oeste da ferradura. Mais tarde, foi construído o ginásio polivalente para a prática de esportes, o ginásio para ginástica olímpica e a piscina.

A primeira turma de alunos do curso de Educação Física teve um descompasso em comparação aos outros alunos da Universidade. Isso porque o curso iniciou com o ano letivo em andamento. Os candidatos passavam por três exames de seleção: exame de conhecimentos gerais, exame de sanidade física e mental e exame de aptidão física e habilidade motora. Só poderia fazer o exame de conhecimentos gerais aqueles que passavam pelos dois últimos. Nesse ano, 141 candidatos concorreram a 50 vagas. O professor e coordenador dos cursos de graduação de Educação Física, Matheus Saldanha Filho, credita a procura pelo curso à grande valorização do professor na época e a estabilidade do emprego, pois havia trabalho nos clubes e escolas, que careciam de professores. Além disso, era uma área nova que chamava a atenção. “Na verdade, o número de alunos que se inscrevia era maior, mas muitos eram eliminados nos testes, principalmente do sexo feminino, já que o grau de exigência era muito alto.” Esses testes aconteceram até o ano de 1980.

Os alunos iniciaram as atividades sem ter salas de aula ou instalações esportivas. A primeira aula do curso foi ministrada no Centro de Tecnologia, já que as obras do estádio não estavam concluídas. O decano desempenhava suas funções no prédio dos institutos e a direção e secretaria ficaram provisoriamente instaladas no centro da cidade. O professor Matheus Saldanha formou-se em 1975, e lembra que as aulas práticas aconteciam em clubes que cediam sua estrutura à Universidade. “Tínhamos futebol e atletismo nas unidades do exército, natação no Corintians e ginástica na Socepe, onde existiam os equipamentos para desenvolvê-la.”

A contratação de professores aconteceu no final do mês de maio em 1970, na emergência do curso funcionar. Seis professores totalizavam o corpo docente, sendo a maioria egressos da Escola Superior de Educação Física do Rio Grande do Sul (ESEF).

Aos poucos, como política da instituição, esses professores saíram para fazer mestrado e doutorado. “Por ser uma Universidade de interior tínhamos dificuldade de acesso a encontros e seminários, o que nos prejudicava, além da pequena produção científica e falta de laboratórios e biblioteca. Mas os nossos gestores correram atrás e uma das iniciativas foi mandar os professores ao exterior para se qualificar”, lembra o professor Matheus. Ao mesmo tempo havia o intercâmbio de professores que trabalhavam em instituições reconhecidas internacionalmente, ajudando na produção, formação e qualificação do curso. Em 1972, a Universidade implantou a chamada Prática Desportiva, e assim a inclusão de duas horas semanais de atividades físicas em todos os cursos de graduação. Isso ajudou no crescimento do Centro, pois justificou a necessidade de ampliação das instalações físicas e materiais e do quadro docente.

A primeira turma se formou no dia 12 de dezembro de 1972, no campo de esportes do Estádio Tarso Dutra. O paraninfo dos 42 alunos que colaram grau nessa noite foi o coronel Milo Aita e todos os professores foram homenageados, inclusive o reitor Mariano da Rocha. A partir de 1984, passaram a se formar duas turmas por ano, a cada semestre.

 

 

No dia 7 de maio de 1973, o MEC reconheceu o Curso de Educação Física e Técnica Desportiva, e no dia 14 de agosto do mesmo ano reconheceu-se o curso de Licenciatura e de Educação Física. O curso de Educação Física da UFSM foi o terceiro do Estado, sendo pioneiro em diversas questões. Além dos professores visitantes estrangeiros, o Centro é a primeira área do campus que implantou o doutorado e um dos únicos no Brasil com a pós-graduação nos anos 80 (apenas concorrendo com a USP e Unicamp).

Por esse motivo, consolidou-se a pós-graduação no curso e formou-se um grande número de mestres e doutores de outros estados. Também, o Centro é pioneiro em abrir vagas nos cursos de pós-graduação para profissionais de outras áreas, como as de Ciências Sociais, Engenharia, Medicina e Educação. O professor Matheus explica que isso qualificou os cursos ainda mais. “Na nossa formação tínhamos basicamente os esportes coletivos e tradicionais, sendo por isso muito técnica. Havia uma formação limitada quanto a certas coisas, e com o decorrer do tempo nos aproximamos de outras áreas e várias disciplinas foram inseridas, formando um Centro plural e múltiplo.” Hoje, mais de 80 turmas já se formaram pelo Centro, que continua sendo referência na Universidade.

Fonte: O livro UFSM Memórias, de autoria de Luiz Gonzaga Isaia.

Repórter:

Daniela Silva Huberty – Acadêmica de Jornalismo

Edição:

Lucas Dürr Missau.

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