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São reais os riscos da tecnologia?



No último dia 13 a Universidade Federal de Santa Maria recebeu, na aula magna do Programa de Pós Graduação em Comunicação, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Muniz Sodré. Graduado em Direito pela Universidade Federal da Bahia, mestre em Sociologia da Informação e Comunicação pela Université de Paris IV e doutor em Letras pela UFRJ, o professor é um dos grandes intelectuais brasileiros da atualidade. Seus estudos são centrados na produção cultural.

 

 

Em sua visita à UFSM, diante do lotado auditório do prédio 67, o professor Muniz Sodré falou sobre a relação que a humanidade mantém com a tecnologia e como essa relação afeta os processos de comunicação entre os indivíduos. Inicialmente ele dissertou sobre os significados que o vocábulo comunicação pode carregar.

Trecho da fala de Muniz Sodré sobre os significados da palavra comunicação:

Depois de apresentar suas ideias de comunicação como instrumento de contato verbal, ou imagético. Passagem de conteúdos pedagógicos na escola e intervenções orais ou escritas em congressos e também difusão de conteúdos gerais nesse conjunto de dispositivos que nós chamamos de mídia, Muniz Sodré falou sobre o novo atributo incorporado aos processos de comunicação: um caráter transmissor.

Escute aqui outro trecho da palestra:

Muniz Sodré afirmou que o caráter de meio de transmissão de informações assumido pela comunicação se reforçou pela evolução dos meios tecnológicos de contato entre os indivíduos. Diante dessa informação, o autor sugeriu o surgimento de uma nova espécie de vida na Terra. Abaixo mais um trecho da aula inaugural com Muniz Sodré.

A partir dessas constatações Muniz Sodré apresentou os dois principais questionamentos que trouxe à comunidade acadêmica santa-mariense: Qual é a medida adequada de relacionamento técnico da exterioridade humana? São reais os riscos da tecnologia?

 

 

A evolução dos meios e a invenção dos medos

Especialmente desde a década de 1970, as sociedades dos países absorvidos pelos processos de globalização passaram a observar importantes e cada vez mais velozes alterações em suas formas de comunicação. Essas formas de comunicação sempre refletiram características de cada sociedade. Diante de transformações tão rápidas e profundas muitas certezas afirmadas por práticas culturais milenares – como a convivência familiar e o estabelecimento de círculos sociais – passaram a ser questionadas. A esse respeito, Muniz Sodré disse “No passado as famílias conversavam, se falavam. Hoje existe a televisão, a internet, e isso prejudica aquilo. […] A comunicação é de tal modo definida pela tecnologia, definida por máquinas, que as formas tradicionais de mediação entre o homem e o mundo parecem desaparecer, parecem sumir”.

Segundo o pesquisador, o desaparecimento dessas formas tradicionais de mediação gera medo e angústia. Ele afirmou que entre as décadas de 1970 e 1990, os críticos culturais de esquerda europeus foram muito apocalípticos com relação à comunicação. Como se o mundo estivesse realmente desaparecendo. Nesse sentido a resposta para os questionamentos colocados devem solucionar os problemas gerados pelo desenvolvimento desenfreado da tecnologia, orientando os indivíduos para um uso racional desses objetos.

Interações que salvam

Para Muniz Sodré há três processos interativos que devem ser considerados na busca pelo equilíbrio da importância da ação humana e da importância dos objetos tecnológicos na comunicação entre os indivíduos. O primeiro desses processos de interação é a educação. Mas a educação, enquanto incorporação intelectual.

Sodré crê na educação como o “processo de incorporação afetiva pelos indivíduos dos princípios e das forças que estruturam o bem de uma formação social”. Esse bem, segundo o palestrante, é o equilíbrio econômico, político e ético entre os indivíduos de determinada comunidade. O professor alertou para a ideia de que educar não significa instruir, dotar de conteúdos ou conhecimento, mas sim incorporar no estudante o sentido de comunidade.

O segundo processo de interação, segundo Muniz Sodré, é a interface que deve existir entre a tradição e a modernidade.  Para o professor da UFRJ procedimentos tradicionais como a escrita e a leitura, que ao longo de muitos séculos tornaram-se mecanismos de obtenção de status e instrumentos de diferenciação entre os indivíduos, devem se transformar em práticas mais fraternas, mais solidárias. Aqui o professor assume papel de mediador e tem fundamental importância na democratização dos processos de comunicação.

A inclusão digital que simplesmente insere as classes populares no mundo da tecnologia, sem a capacitação para um uso produtivo dos objetos tecnológicos, apenas repete o domínio exercido pelos mais ricos sobre os mais pobres no mundo globalizado. Ao observar a popularização do uso de tablets, laptops, smartphones e netbooks em comunidades carentes da periferia do Rio de Janeiro Muniz Sodré afirmou que nunca houve tanto desconhecimento no mundo quanto agora com a internet.

A elevada quantidade de informações disponíveis aos usuários segue a lógica do mercado. Também guiada por essa lógica, a mídia é a nova responsável pela socialização dos saberes. Esses saberes são norteados pelo capital que para se sustentar necessita difundir na sociedade ideias permeadas por tabus, estereótipos e preconceitos. Para Muniz Sodré, saber demais pode ser uma nova forma de ignorância.

O terceiro e último processo de interação a ser observado, de acordo com o professor Muniz Sodré, é a mutação das artes, impulsionada pelos jovens. Essa interação diz respeito à inversão de papéis sociais. Agora, com a acelerada modernização das formas de comunicação, são os jovens que ensinam aos velhos. A evolução tecnológica dos objetos de comunicação é utilizada para a criação de novas formas de expressão.

Respostas tranquilizadoras

Finalizando sua explanação, Muniz Sodré afirmou que a comunicação é um jogo. Um jogo motivador, convertido em uma ocupação agradável por ela e para ela mesma. Dessa forma, os objetos desenvolvidos para facilitar a execução desse jogo devem ser fontes de aprendizado.

Sodré apontou: “Cada novo instrumento, cada nova técnica, cada novo objeto amplia por extensão, amplia por duplicação, o espaço humano.” Assim, os objetos não são criados para “roubar” a espontaneidade ou o traço humano da comunicação. Mas sim para potencializar o alcance dos aprendizados consequentes dos processos comunicativos.

Repórter:

Fernanda Arispe – Acadêmica de Jornalismo.

Edição:

Lucas Durr Missau.

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