O contador é o profissional que planeja, coordena e controla os negócios de uma empresa. Antigamente, o título de contador era obtido através de dois anos básicos no ginasial e três anos em curso profissional. Em Santa Maria, os profissionais concluíam seus cursos no Colégio Santa Maria. Mas, devido às constantes alterações na Legislação Fiscal e Tributária e a complexidade da profissão, o curso de Ciências Contábeis passou para o nível superior. Assim, aos poucos, teve início um grande movimento em favor da criação do curso na cidade.
A manifestação começou em 1958 com a Associação Beneficente dos Contabilistas e o Sindicato dos Contabilistas de Santa Maria. Não demorou muito para que outras pessoas e entidades se unissem ao movimento. No ano de 1962, chegou ao reitor Mariano da Rocha um ofício da Associação Comercial e Industrial de Santa Maria, que expressava toda a necessidade da instalação e funcionamento do curso na cidade. Somente quatro anos mais tarde, em 1966, esse sonho começou a ganhar forma. Uma comissão formada pelos professores Willy Schwark, José Pereira Ritzel, Vitor Francisco Schuch e Luiz Gonzaga Isaia reiterou o pedido ao Reitor, e assim, a proposta foi finalmente encaminhada, tendo sido organizada pelo Instituto de Estudos e Pesquisas Econômicas (IEPE) da UFSM.
O diretor-geral da administração e diretor da Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas na época, Luiz Gonzaga Isaia, foi um dos que propôs a criação do curso. “Nós entramos com o pedido no Conselho Universitário junto com o do curso de Administração, pois eles já tinham o processo com parecer do relator e nós apenas tínhamos o processo para a criação. Assim, aproveitaríamos o que já estava pronto. Foram mais de vinte quilos de processo levados à Brasília.”
Esse processo foi organizado pelo professor José Pereira Ritzel, e em novembro do mesmo ano o Reitor o despachou escrevendo: “Aprovo ad referendum do Egrégio Conselho Universitário”. O professor Ritzel logo redigiu o edital, e no outro dia já havia divulgação na imprensa. “Isso causou um alvoroço na Universidade, mas somente em janeiro de 1967 o Conselho Universitário aprovou o funcionamento do curso, juntamente com o curso de Administração”, lembra Isaia. O quadro de professores já estava pronto e Ritzel foi nomeado o primeiro coordenador.
Em março de 1967, a primeira turma chegava ao novo curso, que tinha regime semestral, duração de quatro anos e funcionava no turno da noite. Trinto e quatro alunos estavam matriculados, sendo um deles Waldyr Pires da Rosa. “A nossa turma foi, com certeza, a de maior idade e a maioria dos alunos já trabalhava com contabilidade ou era formado em outro curso, como eu.” No início, os professores vinham de Porto Alegre para lecionar, mas a falta destes e a experiência dos alunos fez com que alguns deles, como Waldyr, também dessem aulas ou começassem a lecionar logo depois de formados. “Muitos que entraram nesse primeiro ano já se conheciam, pois além de serem da cidade, já exerciam a profissão de contador. Isso criou boas relações entre todos”, comenta.
A primeira chefia do Departamento de Contabilidade ficou a cargo do professor Nilo Kneip Silva, até 1973. Ritzel trabalhou como coordenador até o ano de 1979 e a partir dessa data Waldyr assumiu o cargo, até 1983.
Outro aluno e professor do curso Plínio Miguel José Tocchetto, lembra que o vestibular era realizado no Colégio Santa Maria. “Eu fiz o vestibular de inverno, mas como já tinha cursado Economia logo passei a fazer parte da primeira turma.” Naquela época, a prova consistia em uma redação sobre conhecimentos gerais. Assim como tantos colegas, ele não perdeu o vínculo com a instituição e a paixão pela profissão o fez conciliar o escritório de contabilidade com a academia. “Não havia verba no começo do curso, e eu lecionei dois anos de graça. Depois desse tempo assinaram meu contrato.”
Uma das características do curso nos primeiros anos foi a falta de espaço para funcionar, inclusive sendo chamado de itinerante na época. No primeiro ano, as aulas foram realizadas em uma sala localizada no pavimento térreo, na ala norte do prédio da Faculdade Politécnica, hoje o atual Centro de Tecnologia. Muitas aulas eram divididas com o curso de Administração. A partir do ano seguinte, elas passaram a ser em salas do Colégio Santa Maria, e mais tarde nas dependências da Faculdade Imaculada Conceição, atual Unifra, e da Escola Industrial Hugo Taylor. Por fim, o curso foi definitivamente para o sexto andar do prédio da Antiga Reitoria, no centro de Santa Maria.
O curso de Ciências Contábeis foi integrado ao Centro de Ciências Jurídicas, Econômicas e Administrativas em 1970, e no dia primeiro de dezembro do mesmo ano se formava a primeira turma. A cerimônia aconteceu no Clube Caixeiral, onde dezessete formandos colaram grau. Dois meses depois, o curso era reconhecido pelo Conselho Federal de Educação. Desde 1978, ele integra o atual Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH).
Ao longo dos anos, a procura pela Contabilidade foi aumentando e, consequentemente, o número de alunos. Com as alterações recorrentes do currículo foi implantado o curso também em período diurno. Segundo a professora Sélia Grabner, um dos grandes motivos foi incentivar a pesquisa entre os alunos, já que geralmente quem faz cursos noturnos trabalha durante o dia. ”Os alunos conseguiriam se envolver mais nas atividades do curso, e nós vimos esse resultado.” Isso aconteceu no ano de 2004, mesmo ano que o curso passou para quatro anos e meio de duração. Mais tarde, em 2009, devido à nova legislação vigente, a carga horária dos cursos de Ciências Contábeis aumentou para três mil horas. Assim, a formação acadêmica na instituição passou para cinco anos.
O esforço foi recompensando. Hoje, o curso de Ciências Contábeis está consolidado e recebe oitenta alunos por ano, além de já ter formado quase dois mil contadores durante todos esses anos.
Repórter:
Daniela Silva Huberty – Acadêmica de Jornalismo.
Editor:
Lucas Durr Missau.