É diante de uma infinidade de botões e luzes coloridas, rodeado por quatro monitores de computador na pequena sala de paredes brancas, que, há quase 30 anos, Renato Molina trabalha diariamente com uma disposição invejável. Ele é o responsável por colocar músicas no ar, abrir e fechar microfones, iniciar e encerrar programas. Precisão é a palavra chave, chave que abre e fecha todos os dias a programação dos 800 AM da Rádio Universidade.
Atrás de notáveis cachos negros, já mesclados com outros não tão escuros assim, Molina, como é conhecido nos corredores do último andar do prédio da Reitoria, teve sua ligação com o rádio ainda criança. Na companhia de seu avô, ele já se via horas em volta do aparelho ouvindo músicas tradicionalistas. Na adolescência, ganhou um rádio só seu, e ligando-o em uma caixa de som, começava, ainda que amadoramente, a lidar, e se apaixonar, pelo o que um dia seria a matéria prima de sua profissão.
A partir daí, a relação de Molina com o rádio só se estreitou. Fã de rock, “beatlemaníaco” de carteirinha, e até vocalista de uma banda de rock formada no colégio, o rapaz guiou seus passos até a primeira turma de Bacharelado em Música da UFSM. Um futuro promissor ligado à carreira musical estaria o esperando logo ali à frente. Aposta óbvia diante de sua vocação, mas que ficaria suspensa no terceiro semestre do curso. A fim de não contrariar a vontade de seu pai – que desejava a cada um de seus três filhos carreiras tradicionais – Molina trocou as notas e acordes pelas aulas de anatomia do curso de Fisioterapia.
“Eu tenho uma capacidade muito fácil de me adaptar, sabe?” Somente alguém que consegue ajustar seus interesses às situações conseguiria conciliar a faculdade da área da saúde com sua verdadeira vocação. Em 1982, mesmo ano em que ingressou no curso de Fisioterapia, Molina iniciou como estagiário na Rádio Universidade. Seis meses foram o suficiente para que ele fosse efetivado no cargo que exerce até hoje, o de sonoplasta, nome que não agrada muito Molina. “Por tudo que a gente faz aqui? O certo seria técnico de áudio”, comenta Molina hoje no auge de seus 53 anos.
A fisioterapia ficou no diploma, Molina nunca exerceu, mas leva seus ensinamentos para a vida. Ele conta que as técnicas aprendidas no curso o auxiliam até na hora de cantar, outra habilidade cultivada por ele desde a adolescência. Sempre envolvido na cena musical da cidade, ele já produziu álbuns de bandas locais como Inseto Social e Contos e Fatos, e participou da fundação da banda Nocet, que até hoje toca nos bares da cidade. Atualmente, Molina ainda tem sua banda própria, a Band On The Run, que está em “estado larval”, segundo ele, há cerca de dois anos, por motivos de doença na família de um dos integrantes.
As mãos que operam a técnica da Rádio Universidade, e em setembro deste ano, completam 30 anos de casa, parecem não ter sofrido a ação do tempo. São elas as verdadeiras aliadas de Molina, e, juntamente com suas expressões fortes, o auxiliam a compartilhar suas experiências. É comum ver Molina dando verdadeiras aulas sobre música, bandas e rock and roll ou tocando baterias imaginárias.
Hoje, o técnico de áudio de barba saliente que já participou ativamente de programas na própria rádio, viveu a transição do analógico para o digital como ninguém. O menino nascido na Vila Belga em Santa Maria, Renato Leonardo Bezerra Molina, ainda revela ter o sonho de cursar Engenharia Acústica. Desejo nada absurdo para que alguém, que assim como ele, tem a música como pano de fundo de sua vida.
Repórter:
Natascha Carvalho – Acadêmica de Jornalismo.
Edição:
Lucas Durr Missau.