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Reflexões sobre os direitos das mulheres



 

Há mais de 20 anos, a enfermeira e professora Maria Celeste Landerdahl trabalha com mulheres. Líder do Núcleo de Estudos sobre Mulheres, Gênero e Políticas Públicas (NEMGeP), é uma mulher de fibra que luta pelos seus direitos e pelos de milhares de mulheres.

O NEMGeP faz parte do Departamento de Enfermagem da UFSM e integra uma equipe composta por acadêmicos de enfermagem, enfermeiras do HUSM e da Secretaria de Saúde de Santa Maria, sociólogas, assistentes sociais e também graduandos de psicologia. O Núcleo nasceu com esse nome há cerca de três anos e tem como foco a intervenção na vida das mulheres.

A. O. – Como é desenvolvido o trabalho no NEMGeP?

M. L. – Trabalhamos como qualquer outro grupo de estudos, com reuniões semanais, onde cada integrante tem seu papel na consolidação do NEMGeP. Fazem parte do grupo, acadêmicos de enfermagem e de outros cursos como psicologia; enfermeiras do HUSM e da Secretaria de Município da Saúde; mestrandas e doutorandas do Curso de Enfermagem e de outros cursos, como Ciências Sociais.

Trabalhamos a saúde das mulheres para além do corpo físico, considerando as desigualdades de gênero, cidadania e empoderamento como determinantes sociais da saúde. Fazemos pesquisas na linha de gênero e saúde da mulher, onde inúmeras pesquisas que abordam, também, violência contra as mulheres são realizadas por mestrandas e alunas de graduação. Mas nosso foco forte tem sido a extensão universitária enquanto instrumento imprescindível para a transformação da realidade dos seres humanos, uma vez que tem caráter educativo, cultural e científico, articulando-se com o ensino e a pesquisa de forma indissociável. Da mesma forma, possibilita o encontro singular entre o conhecimento popular e o acadêmico no compartilhamento de ações e saberes, gerando mudanças no contexto onde as pessoas vivem, trabalham e se relacionam.

Com esses projetos tentamos intervir na vida das mulheres de baixa escolaridade e baixa renda, no sentido de, junto com elas, conquistar cidadania por meio do conhecimento de seus direitos e espaço digno na sociedade. Estes projetos de extensão vêm sendo realizados por meio de recursos do Ministério da Educação e da Secretaria de Políticas para as Mulheres principalmente. Um deles, o Mulheres conquistando cidadania, foi executado entre 2010 e 2011 e possibilitou a formação de 40 mulheres para o trabalho na construção civil. Esta foi a primeira iniciativa de capacitação na área da construção civil em Santa Maria e teve como fio condutor o Eixo Autonomia e Igualdade no Mundo do Trabalho e Cidadania, do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, de 2008. Neste projeto, o SENAI fez a qualificação técnica nas modalidades “pintura predial” e “assentamento de pisos e cerâmicas”, e o NEMGeP realizou oficinas de saúde e cidadania como forma de preparar e fortalecer as mulheres no seu cotidiano e para um trabalho culturalmente tido como masculino. Assim, nestas oficinas foram abordados temas como direitos humanos; direitos sexuais e reprodutivos; desigualdades de gênero; a mulher no trabalho da construção civil; saúde como direito; SUS; participação social; planejamento familiar; sexualidade, dentre outros.

Outro projeto, iniciado em junho de 2011 e que finaliza em abril deste ano é o Curso de Aperfeiçoamento à distância “Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça”, ofertado para seis municípios: Santana do Livramento, Sobradinho, Três de Maio, São João do Polêsine, Restinga Seca e Cachoeira do Sul. O curso, com 300 horas, tem cerca de 270 alunos, 15 tutoras e 5 docentes. O objetivo é qualificar gestores das três esferas de governo e também o público que trabalha em Conselhos de Direitos das Mulheres e em organismos de defesa da igualdade racial, na elaboração, monitoramento e avaliação de políticas públicas que considerem as desigualdades de gênero e raça como forma de incluir essas pessoas em um mundo mais justo e mais solidário.

Desenvolvemos, também, projetos pontuais como forma de dar visibilidade às desigualdades ainda existentes e naturalizadas na sociedade, e que causam problemas de saúde em determinados grupos sociais como as mulheres. Desenvolvemos esses projetos com atividades no dia 25 de novembro – Dia Mundial da Não Violência contra as Mulheres – e no dia 8 de Março – Dia internacional da Mulher, quando normalmente elaboramos material educativo e distribuímos junto à comunidade universitária e também fora dos muros da UFSM, como forma de levar à sociedade em geral, conhecimentos que hoje também estão sendo abordados na academia como questão de saúde pública.

Nosso slogan deste ano para o Dia Internacional da Mulher é “8 de março: para além de flores…”. Significa que queremos as flores sim, mas, muito além disso, e até sem as flores, queremos respeito, direitos garantidos, oportunidades iguais, salários dignos. O Dia Internacional da Mulher deve ser considerado uma data política e não um segundo dia dos namorados ou segundo dia das mães. É uma data instituída pela ONU desde 1975 para chamar atenção do mundo sobre a necessidade de tratar mulheres e homens no mesmo patamar de igualdade: na educação, no trabalho, na política, enfim em todas as esferas de atuação de ambos. Eu li um dias desses em uma rede social o seguinte: “no dia 8: rosa, só se for Luxemburgo (a feminista), e parabéns, só se for pela luta e pelas conquistas”. É isso mesmo.

A. O. – E como tu desenvolves teu papel como líder do NEMGeP?

M. L. – Tento passar para o pessoal uma força, uma crença de que é possível avançar, que temos o dever de contribuir nas transformações necessárias para facilitar a vidas das mulheres. Não acredito em causas perdidas, vamos atrás e conquistamos nossos espaços. E isso faz com que as participantes do grupo cresçam como acadêmicas e como seres humanos. A formação delas, com certeza, é diferente, porque elas conseguem ver  um contexto maior e agir sobre ele. Elas não vivem só o espaço da sala de aula, da unidade de saúde ou do hospital e isso com certeza é um diferencial na sua formação. Elas conseguem ver o contexto do mundo no qual vivem e se relacionam, aliando a competência técnica ao compromisso político. A minha participação no grupo é em tempo integral. Procuramos fazer uma gestão compartilhada, onde a democracia é o instrumento maior nas decisões; todas têm sua responsabilidade e desenvolvem suas atividades com empenho e vontade porque acreditam naquilo pelo qual estão trabalhando. Nesta caminhada nós estamos aprendendo, também, a sermos mulheres mais conscientes de nossos direitos e espaços.

 

 

A.O. – Comparando com alguns anos atrás, a mulher ainda sofre muita desigualdade?

M. L. – Algumas coisas mudaram em relação há alguns anos. O próprio voto, por exemplo. As mulheres feministas, em 1932, acreditavam que tendo direito a voto, as coisas iriam mudar. Mas não mudou, e as desigualdades continuam, embora muitas conquistas tenham sido conseguidas também. Nós podemos votar, ter maior nível de escolaridade, mas continuamos ganhando menos que os homens nas empresas privadas, tanto que existe atualmente um projeto de lei que pretende punir empresas que pagarem menos para mulheres que fazem as mesmas atividades. Outro dado alarmante que mostra desigualdade é o fato de que, em média, dez mulheres são assassinadas por dia no Brasil. E por seus companheiros ou ex-companheiros. E por motivos fúteis que dão aos homens o direito de ver as mulheres como sua propriedade. Existem muitas outras formas de desigualdade, mas a maioria das pessoas não percebe porque é algo que se naturalizou na sociedade. Embora não seja natural, foi naturalizado pela sociedade. Com isso se pode perceber que é uma construção social. Porém, temos de pensar que tudo que é construído, pode ser desconstruído, depende de nós, mulheres. Na verdade, nós torcemos muito para que essa data não precise mais existir porque aí estaremos lado a lado com os homens.

A atual versão da entrevista passou pela avaliação da prof. Maria Celeste Landerdahl, que sugeriu alterações no texto.

Repórter:

Andréa Ortis – Acadêmica de Jornalismo.

Edição:

Lucas Dürr Missau.

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