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Dados do Censo 2010 mostram declínio da taxa de fecundidade



O número médio de filhos nascidos vivos por mulher no Brasil passou para 1,86, número inferior ao do Censo 2000 que era de 2,38 filhos. O declínio dos níveis de fecundidade ocorreu em todas as regiões brasileiras. A professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do curso de Medicina da UFSM, Maria Teresa Aquino Campos Velho, explica alguns pontos sobre esses dados.

Para ver os dados do Censo 2010 divulgados pelo IBGE, clique aqui.

D.H. –  Quais os motivos desse declínio da taxa de fecundidade no país?

M.T.C.V. – Esse declínio reflete mudanças importantes que aconteceram aqui nas últimas décadas, movida por movimentos sociais. Um grande impulsionador foi o movimento feminista, não só no Brasil, mas no mundo todo, que mudou a mentalidade das pessoas com relação à condição feminina e com isso favoreceu e incentivou a entrada da mulher no mercado de trabalho, que se deu em massa, e nas universidades, onde a maioria dos cursos hoje tem uma população feminina. Também contribuiu o novo papel do homem, já que a paternidade é cada vez mais presencial, questões de planejamento familiar do governo, como os métodos contraceptivos que hoje estão praticamente disponíveis em qualquer posto de saúde, e claro, a própria autonomia feminina, sua independização, e luta por direitos. A autonomia vem para a mulher, de acordo com antropólogos, via trabalho, remuneração e auto sustento. Tudo isso fez com que ela repensasse seu papel no mundo, que até então era da maternidade. Hoje, não é mais o único e nem o principal. Elas aprenderam que a liberdade e a autogestão estão bastante influenciadas pelo número de filhos que se tem e aprenderam por si só a limitar esse número.

D.H. – Esses números são representativos?

M.T.C.V. – Sim, esses são números bem reais e que refletem uma realidade verdadeira e esperada. Isso se viu no mundo todo já há muitos anos, na Europa principalmente, e agora acontece no Brasil, mostrando que nós estamos em níveis quase europeus quanto a isso. Esses níveis mostram populações com a pirâmide populacional de poucos jovens na base e a ponta do triângulo com envelhecimento bem tardio.

D.H. – Essa diminuição da taxas pode ser considerada um privilégio hoje em dia?

M.T.C.V. – Eu acho que é um privilégio pela questão econômica, de desenvolvimento social e educacional aos países e indiscutivelmente da saúde da população. A própria gravidez na adolescência, por exemplo, de forma geral tem índices muito altos e eles baixam em função do nível educacional e socioeconômico. Quando isso acontece é porque essas questões foram muito trabalhadas e quase sanadas. Se a taxa de fecundidade se manteve ou até aumentou em alguma faixa isso se deu dos 10 aos 14 anos, na adolescência precoce. Esse é um dado assustador e terrível para a saúde pública de qualquer país. Mas todas essas questões são preveníveis, com bons planos de educação e promoção de educação em saúde para homens e mulheres, meninos e meninas.

D.H. – Outro dado foi do padrão de fecundidade, que diminuiu a concentração dos grupos de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos de idade e aumentou dos grupos acima de 30 anos. Porque essa mudança?

M.T.C.V. – Porque as mulheres vão ser mães em geral quando terminam o seu ciclo de estudos e estão entrando no mercado de trabalho, assim a maternidade é cada vez mais postergada no Brasil assim como também na Europa. Essa entrada mais tardia já marca que ela vai ter dois ou três filhos no máximo e isso por si só já alimenta o menor número de filhos por mulher. O próprio Censo mostrou que hoje é quase prevalecente o número de famílias com filho único. Se você elege ter filhos mais tarde, pois isso é uma escolha, há pontos positivos e negativos. Mas tem mulheres que postergam tanto que chega a um ponto que não podem mais ser mães, sendo esse um movimento solitário e doloroso, principalmente para as mulheres brasileiras e latinas. Chega-se a um ponto de conflito, querer e não poder, que traz muita angústia. É um ônus que recai só sobre a mulher, pois o homem pode ter filhos durante a vida toda. Existem muitas técnicas de reprodução assistida, mas que também não é algo fácil e que aconteça sempre, pois existe um percentual de mulheres que engravidam e outras não.

D.H. – Essas mudanças são tendências mundiais ou só dos países desenvolvidos e em desenvolvimento?

M.T.C.V. – É uma realidade desses países. O Japão é o país no mundo com a menor taxa de fecundidade e não chega a um filho por mulher. Mas não é como a China, que tem um plano de governo de controle da natalidade, o que é diferente de planejamento familiar que é uma escolha. Assim também é na Europa, onde alguns países estão promovendo planos e programas sociais para tentar o contrário, ou seja, incentivar as famílias a ter filhos, já que a pirâmide populacional chegou ao ponto de haver um predomínio da população idosa sobre a jovem e em pouco tempo esses países não terão mão de obra que os sustente. Isso começa a ser uma preocupação também no Brasil, que teve um movimento demográfico singular, como chamam os demógrafos, já que em um curto espaço de tempo se deu uma queda enome, diferente do mundo inteiro onde essa queda de fecundidade teve um tempo muito maior.

D.H. – Por que houve esse movimento singular aqui?

M.T.C.V. – Tem influído a globalização, comportamentos sociais compartilhados no mundo inteiro por essa mudança intensa nas comunicações, trocas e tipos de vida, movimentos democráticos, como a queda da ditadura em 83. O Brasil se apropriou de tudo isso e as coisas aconteceram aqui de forma bem mais rápida. A última década foi de mudanças intensas. Isso não muda mais, só avança.

D.H. – As taxas de fecundidade mais altas ainda predominam na região Norte e Nordeste e as mais baixas na região Sudeste. Porque não há mudança quanto a isso?

M.T.C.V. – Rio de Janeiro e São Paulo são as maiores cidades brasileiras, de maior desenvolvimento e poder econômico e que mais espelham essas realidades. Ao contrário, Norte e Nordeste são as mais pobres, há miséria, falta de educação, principalmente em saúde. Além da maternidade ainda ser um valor enorme nas classes econômicas mais baixas, onde é atribuída à mulher a capacidade de poder ser mãe ou não. Famílias cuja remuneração é mais alta, o número de filhos é um ou nenhum. Mas, nas famílias mais pobres ainda persiste um número elevado de filhos.

D.H. – A tendência é diminuir mais essas taxas de fecundidade?

M.T.C.V. – Não sei dizer as perspectivas dos demógrafos, mas deve acontecer como na Europa, que parou em um patamar. A nossa projeção para os próximos 50 anos é muito parecida com a deles hoje.

 

Repórter:

Daniela Silva Huberty – Acadêmica de Jornalismo

Edição:

Lucas Dürr Missau

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