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Os passos de um valenciano em Santa Maria



 

Por meio de convênios com outras universidades, indicações de professores ou por decisões individuais de estudantes que rodam o mundo em busca de novas paisagens, todos os semestres dezenas de intercambistas encontram em Santa Maria uma cidade para se dedicarem aos estudos acadêmicos. A maior parte dos alunos estrangeiros vem dos países latino-americanos; fato que pode ser explicado pela proximidade geográfica e pela antiga relação que muitas das instituições do continente mantêm. Esses argentinos, uruguaios, paraguaios e alguns poucos representantes dos países andinos acabam, por muitas vezes, compartilhando o espaço de moradia.

O edifício Dominique, situado na Rua Venâncio Aires, abriga boa parte desses estudantes. Reunidos em um mesmo local, podem receber maior atenção da Secretaria de Apoio Internacional (SAI) da UFSM, além de estarem em constante contato com outros alunos que dividem o mesmo idioma. Há quem pense o intercâmbio, entretanto, como um desligamento quase completo de algumas referências antigas. Julio Souto Salom, um valenciano de 24 anos, veio a Santa Maria em julho de 2010 para estudar Ciências Sociais – e, desde o primeiro instante, buscou uma adaptação independente. Julio queria testar desde cedo o idioma e se aclimatar ao convívio dos habitantes locais.

De Santa Maria, Julio pouco sabia: apenas que o lugar abrigava uma universidade conveniada com a instituição de Valência, que era um município repleto de militares e estudantes e o pouco mais que o verbete da Wikipedia em espanhol informava sobre o lugar. O primeiro estranhamento ocorreu logo no trajeto. Como chegou a Santa Maria após uma passagem por Montevidéu e Buenos Aires, onde desembarcou do vôo internacional, Julio não imaginava que as semelhanças com os países limítrofes seguiriam após ultrapassar a fronteira: “já estava há horas no Brasil e as pessoas seguiam tomando mate, como havia visto na Argentina e no Uruguai. Logo descobri que no Rio Grande do Sul veria coisas distintas do que imaginava encontrar no Brasil”.

Para completar o cenário, aquele agosto reservava vento frio e chuva para quem chegava a Santa Maria, e Júlio, atrasado em relação ao semestre que já iniciara, foi à universidade logo no segundo dia na cidade. Encontrou uma relação entre alunos e professores que seria quase inacreditável no ambiente europeu: “bem no início, lembro que fui jogar futebol com parte da turma e um dos jogadores era um professor. Pensei ‘como vou fazer um gol no meu professor?’ Aqui há uma dinâmica diferente e uma proximidade maior entre o aluno e o professor”. A vida em Santa Maria, surpreendentemente, parecia mais rápida do que o cotidiano em Valência, cidade como que adormecida pela crise econômica que afeta a Espanha e boa parcela do continente; o domínio da língua portuguesa, por exemplo, veio com facilidade, herança da parte da família que viveu em Vigo, na fronteira com Portugal.

Aos poucos, a convivência com os nativos e as caminhadas pelas ruas centrais da cidade formaram pontos de referência no dia a dia santa-mariense: o Bar do Garça, a banca do peruano que vende cigarros, a boate do DCE e as salas de aula no campus da UFSM, tanto no prédio 74 – reduto das Ciências Sociais e Humanas – como no Centro de Educação, onde ocorriam as disciplinas complementares que Julio buscava nas Letras. E quando as estreitas ruas do Centro se tornaram familiares, Julio viu que era hora de conhecer uma Santa Maria menos visível – justamente a cidade dos bairros periféricos, dos projetos sociais que conhecera nas aulas e menos parecida com a que via diariamente na Rua Professor Braga, onde morava, ou no contexto universitário.

Além da visita aos bairros, havia vontade de ir mais longe. Depois de conhecer o músico e escritor gaúcho Vitor Ramil na Feira do Livro de Santa Maria, Julio conta que praticamente perseguiu o artista quando esteve em Pelotas, já neste ano. Acompanhado do amigo e acadêmico de Ciências Sociais, Vinícius Teixeira Pinto, o estudante tinha um dia livre antes de embarcar rumo a Montevidéu, onde participaria de um congresso de Sociologia. A tarde no sul do estado serviu para – após questionar numerosos pelotenses quanto ao endereço de Ramil – encontrar a residência do cantor. Entre um mate e outro, muito se falou sobre a “Estética do Frio”, espécie de movimento que, após uma conferência do músico em Genebra, na Suíça, discute as muitas identidades dentro de um mesmo Brasil – principalmente, as particularidades do sul.

Mas, se Pelotas e o Uruguai tornaram-se pontos acessíveis da nova vida na América do Sul, a Espanha por vezes pareceu distante demais. Em maio, quando da explosão dos movimentos nacionais por uma democracia real no país, Julio teve de acompanhar tudo pela internet, nas transmissões em tempo real que mostravam as aglomerações nas praças espanholas. Ficou, entretanto, a sensação de estar longe do local em que as coisas aconteciam. Como o fim do ano se aproximava, Julio Souto Salom retornou ao seu país em setembro, para oficializar a formatura e rever parentes e amigos. A recente volta a Santa Maria trouxe uma rotina drasticamente distinta: a correria dos dias no campus da UFSM deu lugar a uma reclusão quase total no apartamento, onde se prepara para a seleção do mestrado em Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Da cidade, no entanto, Julio guarda lembranças ensolaradas da vida universitária.

Repórter:

Iuri Müller – Acadêmico de Jornalismo

Edição:

Gisele Dotto Reginato – Professora da disciplina de Teoria e Técnica de Jornalismo Digital II.

Matéria produzida na disciplina de Teoria e Técnica de Jornalismo Digital II do curso de Jornalismo.

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