Foi com lágrimas nos olhos que a professora Beatriz Maria Pippi Quintanilha, chefe do departamento de Artes Cênicas do Centro de Artes e Letras (CAL) da UFSM, contou a história do Teatro Caixa Preta. Formada na primeira turma de Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Maria, ingressou no ano de 1975 e concluiu o curso em 1979, Beatriz tornou-se professora do CAL em 1984. Em oito de novembro daquele mesmo ano, foram iniciadas as obras do Caixa Preta.

O projeto inicial do Caixa Preta foi alterado no ano de 1985, com as obras já em andamento. A ideia de um anfiteatro que atendesse às necessidades dos cursos do CAL foi ampliada. Passava-se a idealizar o primeiro, e até hoje único, teatro da Universidade Federal de Santa Maria.

As obras do teatro foram interrompidas inúmeras vezes por falta de recursos. A inauguração que estava prevista para o ano de 1985, em função da comemoração dos 25 anos de fundação da UFSM, aconteceu apenas em cinco de abril de 1988. A partir da inauguração, o Caixa Preta tornou-se um espaço fervilhante para os artistas e para os apaixonados por arte das comunidades acadêmica e santa-mariense. Grupos de teatro independentes e artistas renomados internacionalmente dividiram o palco do teatro.

Além disso, para os alunos e professores do Centro de Artes e Letras da UFSM, ter o Caixa Preta à disposição era – e continua sendo – um privilégio que tornou alguns de seus cursos destaques no ensino superior brasileiro. Desde a concepção do projeto, foi amplamente perceptível a preocupação em tornar o espaço do teatro Caixa Preta um lugar de convergência, convivência e de ampliação dos conhecimentos sobre as artes.

Benefícios multiplicados e divididos

O curso de Música tinha agora a oportunidade de realizar recitais e programas desenvolvidos pelo seu departamento. As artes plásticas, hoje convertidas em Artes Visuais, poderiam organizar exposições nos setores de Comunicação Visual e artes plásticas, através de mostras de fotografias, desenho, pintura, esculturas e gravuras produzidas pelos corpos docente e discente do curso. Além disso, era possível, agora, promover mostras e salões de âmbito local, estadual e nacional.

O curso de Letras passou organizar palestras, conferências, exposições de revistas, livros e obras publicadas no CAL e em outros locais. O novo espaço proporcionava a projeção de filmes, vídeos e slides. Além da exposição de trabalhos orais e visuais dos alunos e professores do curso.

Mas, o curso de Artes Cênicas foi, indubitavelmente, o mais beneficiado com a construção do Caixa Preta. Os alunos agora poderiam ensaiar e apresentar seus espetáculos em um teatro com estrutura profissional. Seminários e palestras sobre teatro com grandes atores e teatrólogos foram realizados ali.

O Caixa Preta possui esse nome por ser, de fato, uma caixa preta. Sua maleabilidade o torna capaz de abrigar todos os tipos de expressões artístico-culturais, inclusive ao mesmo tempo.

Convivência de saberes, a maior benfeitoria do Caixa Preta

O teatro, segundo a professora Beatriz, inaugurou um novo modo de produção cultural na UFSM. Os cursos do CAL passaram a conviver, essa convivência trouxe muitos benefícios para todos.

Para a professora Beatriz, os espetáculos que encerram o curso dos alunos de Artes Cênicas são uma amostra perfeita da integração vinda juntamente com o Caixa Preta. Na organização desses espetáculos, que acontecem a cada semestre e que são abertos à comunidade santa-mariense, os alunos de praticamente todos os cursos se mobilizam.

Enquanto os alunos de Artes Cênicas se preocupam com a direção e com a encenação, os alunos de Música auxiliam na composição da trilha sonora e os alunos de Artes Visuais e Desenho Industrial colaboram na construção do cenário e dos figurinos. Já os alunos de Letras podem ajudar na elaboração dos textos. Tudo isso fluindo de uma maneira muito natural, favorecendo o amadurecimento pessoal e profissional de todos os envolvidos.

O Caixa Preta para quem o viu crescer

“Os pulmões do CAL”. É dessa forma que a professora Beatriz Pippi define o teatro Caixa Preta.  Ali todos os alunos do centro estão envolvidos pelo trabalho, e é isso que mantém a Universidade funcionando, respirando. É isso que a mantém viva.

Com lágrimas que não resistiram em correr pelo rosto a professora lembrou a luta dos professores do Centro de Artes e Letras para que o projeto do Caixa Preta se concretizasse. “Tivemos muitas dificuldades, principalmente pela falta de recursos financeiros. Mas elas foram vencidas pela vontade dos colegas de transformar o sonho em realidade”.

Foram realizados inúmeros projetos para captação de recursos, nem todos foram aprovados pelo Ministério da Educação, mas nem por isso desistiu-se da ideia. Ao longo dos anos o Caixa Preta foi sendo equipado da maneira que merece. Os sistemas de iluminação e de som modernos são motivo de orgulho para a professora. A instalação de aparelhos de ar-condicionado também contribui para a qualidade dos espetáculos.

Com os olhos fechados, enquanto lágrimas escorriam-lhe pela face, Beatriz procurou resumir o significado do teatro Caixa Preta, especialmente para a comunidade do CAL: “É como se fosse uma extensão das nossas alma, do nosso espírito. Um espaço sagrado, construído aos poucos e envolto de amor, comprometimento e pela sensação de congregação”. 

Repórter:

Fernanda Arispe – Acadêmica de Jornalismo.

Edição:

Lucas Durr Missau.