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Um pago na Universidade



 

Na Universidade Federal de Santa Maria, há quase seis anos o tradicionalismo gaúcho reside na pequena sala 3128 do prédio 42, no Centro de Ciências Rurais. Ali está instalado o Departamento de Tradições Gaúchas (DTG) Noel Guarany. Criado em novembro de 2005, o DTG é o principal elo da Universidade com o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG).

Nascido do interesse de acadêmicos do curso de Medicina Veterinária da UFSM em manter os costumes da cultura tradicionalista mesmo longe do pago, o DTG Noel Guarany foi fundado em 22 de novembro de 2005. A falta sentida dos costumes tradicionalistas pelos alunos vindos, principalmente, do interior do Rio Grande do Sul foi o principal incentivo para a criação do DTG.

Fernanda Flores, primeira patroa do DTG Noel Guarany, juntamente com seus colegas, pensou, então, em fundar um Departamento Tradicionalista do CCR. Cartazes foram espalhados por vários centros de ensino e diretórios acadêmicos (DAs) da UFSM, convidando a comunidade acadêmica a participar de uma reunião no prédio 44 que daria início às atividades que viriam a consolidar a existência do Departamento Tradicionalista do CCR.

Segundo Luciano Pes, na época estudante de Agronomia da UFSM, e hoje, professor do curso técnico em Agropecuária do Colégio Politécnico da Universidade e atual patrão do Noel Guarany, a expectativa era de que apenas alunos do próprio CCR se interessassem na participação, em função dos fortes laços da cultura tradicionalista com o modo de vida rural, característico de grande parte dos alunos daquele centro.

Porém, para sua surpresa e dos demais colegas que alicerçaram a ideia, estudantes de outros centros também compareceram à reunião, o que fez com que o estabelecimento de um Departamento Tradicionalista do CCR se tornasse insuficiente. Verificou-se que a necessidade de um espaço onde se venerasse e praticasse os costumes do Rio Grande não era só do CCR, mas da UFSM.

Primeiro grupo artístico formado no DTG Noel Guarany. Imagem: divulgação.

 

As primeiras ações

A partir da conclusão de que o Departamento de Tradições Gaúchas fundado naquela reunião abrangeria toda a Universidade, muitas decisões precisaram ser tomadas. A primeira delas era batizar o DTG. O nome escolhido homenageia Noel Guarany, destacado músico gaúcho que escolheu a cidade de Santa Maria para passar os últimos anos de sua vida.

A seguir foi discutido o símbolo do DTG, a assessoria de comunicação do CCR foi responsável pelo design, e o grupo de alunos fundadores foi quem elegeu o amarelo a cor da bandeira do Noel Guarany. Assim como todos os departamentos tradicionalistas, o DTG Noel Guarany escolheu um lema a ser seguido. Em função do caráter acadêmico da iniciativa o lema eleito foi “Conhecimento e tradição, unidos pelo mesmo ideal”, elaborado pelo então sócio Juliano Santos.

Na sequência, foram definidos os aspectos mais práticos do DTG, como a primeira patronagem (direção), conduzida pela fundadora Fernanda Flores, e o local onde seriam desenvolvidas as atividades do Noel Guarany. Foi a partir dessas definições que a direção do CCR e a reitoria da Universidade começaram a colaborar efetivamente com a formação de um departamento tradicionalista na UFSM.

Já em 2005, a direção do CCR cedeu uma sala do prédio 42, que até então era utilizada como depósito, para ser usada pelo Noel Guarany como secretaria.

A professora do departamento de Medicina Veterinária Preventiva do CCR, Maristela Lovato Flores, foi uma das primeiras docentes a apoiar as ações do DTG Noel Guarany. Assim como o professor Irineo Zanella, atual vice-diretor do CCR, que auxiliou na transformação da iniciativa dos alunos em um projeto de extensão, do qual desde o início é coordenador.

Amadurecimento, afirmação e reconhecimento

No decorrer de sua curta história, o DTG Noel Guarany vem se consolidando como um segmento cultural da UFSM. No ano de 2009, o Departamento foi o vencedor do desfile de 20 de Setembro em premiação oferecida pela Prefeitura de Santa Maria, e ficou em segundo lugar no concurso realizado pela 13º Região Tradicionalista (13º DT). Segundo o patrão Luciano Pes, atualmente, 91 pessoas estão cadastradas como sócias. Destas, aproximadamente 65 estão envolvidas ativamente nas ações do Noel Guarany.

As ações são divididas em três grandes áreas: a artística, a campeira e a patronagem. As atividades artísticas são as que concentram a maioria dos sócios do DTG. As aulas de dança e atividades como declamação, canto e culinária são as mais praticadas pelos frequentadores. As lidas campeiras englobam as provas de laço e os rodeios. Já a patronagem é a própria direção do DTG, a equipe coordena todas as outras atividades.

Atual grupo de dança do DTG Noel Guarany. Foto: divulgação.

No ano de 2008, o DTG Noel Guarany se filiou ao Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Fato que trouxe reconhecimento e prestígio do MTG ao Noel Guarany. “De agora em diante o DTG Noel Guarany deve crescer”. É o que garante o patrão Luciano Pes. Com este reconhecimento intenciona-se expandir as atividades do DTG. Pretende-se que, além dos estudantes, os funcionários técnico-administrativos e os docentes se associem ao Departamento, trazendo consigo suas famílias. A implantação de uma invernada juvenil – hoje o DTG conta apenas com a invernada adulta – é uma das principais aspirações da atual direção do Noel Guarany.

Oferecer aos estudantes que deixam suas casas, suas cidades, suas famílias, seus amigos, enfim, seus costumes, um espaço onde seja possível vivenciar e exaltar a cultura gaúcha – com baixo custo – foi o grande objetivo inicial do DTG Noel Guarany. Hoje, estender essa oferta é o que motiva seus membros.

Na Semana Farroupilha desse ano o DTG Noel Guarany vem atendendo toda a demanda de apresentações e compromissos com muita disposição. Os horários disponíveis não-compatíveis dos membros são superados pelo revezamento nas apresentações, as dificuldades financeiras pela venda dos bolos de chocolate e milho pelas prendas. É ultrapassando obstáculos que o DTG Noel Guarany pretende continuar acolhendo os gaudérios nativos e também os “estrangeiros” deste vasto pago de tradição e conhecimento que é a UFSM.

 

Repórter:

Fernanda Arispe – Acadêmica de jornalismo.

Edição:

Lucas Durr Missau – Jornalista.

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